Expansão dos Centros Públicos Head Start de Educação Infantil nos Estados Unidos

Data de publicação: 29/04/2022

Data da última atualização: 04/04/2023

Qual o objetivo?

Quebrar o vínculo entre a pobreza infantil e o baixo preparo para início da vida escolar, promovendo o desenvolvimento intelectual, social e físico de crianças em idade pré-escolar em contextos de vulnerabilidade social.

Onde e quando foi implementado?

Os centros públicos de educação infantil Head Start foram implementados a partir de 1965 nos Estados Unidos, financiados pelo Office of Economic Opportunity. No ano de 2019, mais de 1 milhão de crianças americanas frequentavam estes centros.

Como é o desenho?

Os centros Head Start tinham abrangência nacional e eram financiados pelo governo federal, com focalização em crianças de 3 a 5 anos oriundas de famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade social. Assim, as diretrizes para financiamento estabeleceram que pelo menos 90% das crianças em cada centro deveriam morar em casas abaixo da linha federal de pobreza à época e pelo menos 10% das crianças teriam que ter algum tipo de deficiência física ou mental.

Os centros ofereceram serviços por 9 meses no ano pelo dia inteiro ou por meio período, e as matrículas foram limitadas a um máximo de 2 anos por criança. Embora eles fossem administrados localmente, a sua qualidade era regulada por um conjunto de diretrizes federais. Os centros partiam de uma concepção holística que priorizava diferentes aspectos, como saúde, autoconfiança, habilidades verbais, de compreender conceitos e estabelecer relações, e a importância do envolvimento dos pais com o processo de desenvolvimento infantil. Ao contrário de alguns programas modelo de educação infantil, mais caros e de pequena escala, como HighScope Perry Preschool e Abecedarian, os arquitetos dessa expansão de centros Head Start priorizaram o acesso generalizado, calculando que uma expansão maciça da pré-escola maximizaria seus benefícios de combate à pobreza.

O apoio à saúde infantil era o primeiro componente dos centros Head Start. Para tanto, os centros forneciam às crianças serviços de saúde, como imunização - para, por exemplo, poliomielite e sarampo - e triagem para condições como tuberculose, deficiências nutricionais, anemias e diabetes, além de triagens oculares, auditivas e de saúde bucal e encaminhamentos a médicos especialistas. Assim, os centros cumpriram o papel de intermediários entre as famílias e serviços de atenção básica da saúde pública. Além disso, os centros ofereciam às crianças refeições e, portanto, tinham um papel fundamental na suplementação nutricional e calórica. Por fim, os centros contavam com apoio de profissionais que auxiliavam na identificação de problemas de saúde mental entre as crianças e ajudavam no acesso ao tratamento adequado.

O segundo componente dos centros era o apoio por meio de serviços de assistência social. Assim, por exemplo, os centros contavam com profissionais que proviam apoio a famílias que enfrentavam problemas domésticos.

O terceiro e último componente do programa, também oferecido por profissionais ligados aos centros, era o de apoio aos pais no acompanhamento do desenvolvimento das crianças.

Os diferentes aspectos prioritários do desenvolvimento infantil são refletidos nas diretrizes orçamentárias do programa nos anos iniciais (1966-1967): 70% dos recursos se destinaram às atividades diárias dos centros, 20% se destinaram a serviços de saúde e suplementação nutricional e o restante a formas de estimular o envolvimento dos pais, serviços sociais - como apoio a famílias que enfrentavam problemas domésticos - e serviços relacionados à saúde mental.

O que aprendemos com o monitoramento e avaliação?

Foram documentadas, nos artigos publicados e no artigo para discussão listados na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito do impacto causal da introdução dos centros Head Start entre os anos de 1965 e 1980, nas crianças contempladas:

  • aumento de 5% (ou 0,65 ano) no número total de anos de estudo alcançados na vida adulta [1];
  • aumento de 3% (ou 2,4 pontos percentuais) na taxa de crianças que vieram a completar o ensino médio ou obtiveram um certificado de conclusão por meio de prova posterior ao período de saída da escola [1];
  • aumento de 9% (ou 5,4 pontos percentuais) na taxa de crianças que vieram a se matricular em universidades, e de 39% (ou 12 pontos percentuais) na taxa de crianças que vieram a receber um diploma universitário [1];
  • aumento de 5% (ou 4,4 pontos percentuais) na taxa de crianças que estavam empregadas quando adultas [1];
  • aumento de 4% na renda auferida no mercado de trabalho, embora o resultado seja imprecisamente estimado [1];
  • redução de 27% (ou 3,2 pontos percentuais) na taxa de crianças que recebiam algum benefício do sistema de assistência social quando adultos - um resultado que se estabeleceu principalmente pelo efeito da introdução do programa sobre mulheres [1];
  • redução de 23% (ou 2,7 pontos percentuais) na taxa de crianças que eram pobres quando adultas [1];
  • redução de aproximadamente 60% (ou 8,5 pontos percentuais) na taxa de crianças que, quando adultas, reportaram ter sido acusadas de algum tipo de crime [2];
  • há evidência de que os efeitos descritos acima foram menores entre crianças que foram contempladas pelo programa em localidades em que haviam outras políticas públicas que cumpriam papel semelhante na àrea de saúde (como o Medicaid e o programa comunitário americano de atenção básica em saúde) e de nutrição (como o programa Food Stamps de cupons para alimentos) [1];
  • também há evidência de que os efeitos descritos acima foram maiores quando seguidos de investimentos em educação básica no ensino fundamental e no ensino médio [3];
  • o maior financiamento para o programa dado a localidades mais pobres foi responsável por reduções em mortalidade de 5 aos 9 anos (em 34%) para causas como anemia, meningite e doenças respiratórias [4];
  • há também evidências de que a entrada do programa afetou não só as crianças contempladas diretamente, mas os seus filhos e filhas, por exemplo, reduzindo seu envolvimento com crime (em aproximadamente 20%), entre aqueles que nasceram de mães com menos do que o ensino médio completo [5].

Também foram documentadas, em artigos publicados e para discussão listados na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito do impacto causal da introdução do programa entre os anos de 1980 e 1990, nas crianças contempladas:

  • aumento de 15% de um desvio padrão em um indicador de desenvolvimento de linguagem (conhecimento de vocabulário e linguagem receptiva), numeracia, alfabetização e princípios de leitura, construído com informação coletada aos 5 ou 6 anos [6];
  • aumento de 13% de um desvio padrão em um indicador de desenvolvimento de linguagem (conhecimento de vocabulário e linguagem receptiva), numeracia, alfabetização e princípios de leitura, construído com informação coletada dos 7 aos 10 anos [6];
  • há evidências de que os efeitos positivos descritos acima se dissiparam parcial ou integralmente nos anos seguintes, quando as crianças afetadas pelo programa tinham de 11 a 14 anos [6];
  • redução de 29% (ou 1,3 pontos percentuais) na taxa de obesidade entre meninos, averiguada aos 12 ou 13 anos [7];
  • redução de 65% de um desvio padrão em um indicador de problemas de comportamento entre meninos, calculado com informação coletada aos 12 ou 13 anos [7];
  • redução de 55% de um desvio padrão em um indicador de sintomas depressivos entre meninos, calculado com informação coletada aos 16 ou 17 anos [7];
  • redução de 22% (ou 0,8 pontos percentuais) na taxa de meninos que vieram a ser sentenciados por algum tipo de crime até os 21 anos [7].

Nos anos 2000, um estudo experimental avaliou o impacto dos centros Head Start em uma amostra de crianças, encontrando resultados positivos de curto prazo [8-10].

De onde vem essa informação?
  1. Bailey, M. J., Sun, S., & Timpe, B. (2021). Prep School for Poor Kids: The Long-Run Impacts of Head Start on Human Capital and Economic Self-Sufficiency. American Economic Review, 111(12), 3963-4001.
  2. Garces, E., Thomas, D., & Currie, J. (2002). Longer-term Effects of Head Start. American Economic Review, 92(4), 999-1012.
  3. Johnson, R. C., & Jackson, C. K. (2019). Reducing Inequality Through Dynamic Complementarity: Evidence from Head Start and Public School Spending. American Economic Journal: Economic Policy, 11(4), 310-49.
  4. Ludwig, J., & Miller, D. L. (2007). Does Head Start Improve Children's Life Chances? Evidence from a Regression Discontinuity Design. The Quarterly Journal of Economics, 122(1), 159-208.
  5. Barr, A., & Gibbs, C. (2017). Breaking the Cycle? The Intergenerational Effects of Head Start. Unpublished Manuscript. Texas A&M University, College Station, TX.
  6. Deming, D. (2009). Early Childhood Intervention and Life-Cycle Skill Development: Evidence from Head Start. American Economic Journal: Applied Economics, 1(3), 111-34.
  7. Carneiro, P., & Ginja, R. (2014). Long-term Impacts of Compensatory Preschool on Health and Behavior: Evidence from Head Start. American Economic Journal: Economic Policy, 6(4), 135-73.
  8. Bitler, M. P., Hoynes, H., & Domina, T. (2014). Experimental Evidence on Distributional Effects of Head Start. National Bureau of Economic Research Working Paper.
  9. Gelber, A., & Isen, A. (2013). Children's Schooling and Parents' behavior: Evidence from the Head Start Impact Study. Journal of Public Economics, 101, 25-38.
  10. Puma, M., Bell, S., Cook, R., Heid, C., & Lopez, M. (2005). Head Start Impact Study: First Year Findings. Administration for Children & Families.
Vídeos


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