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Reestruturação e Aprimoramento do Programa Familia, Mujer e Infancia (FAMI) na Colômbia

Publicado em 20/12/2022 Atualizado em 24/05/2024
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Qual o objetivo?

Apoiar aprimoramentos na estimulação e nutrição na primeira infância, estimular a formação de capital humano e mitigar os efeitos da pobreza sobre o desenvolvimento infantil.

Onde e quando?

As mudanças foram introduzidas em um programa chamado Hogares ComunitariosModalidad Familia, Mujer e Infancia (FAMI), entre setembro de 2014 e março de 2016, no contexto de um estudo experimentalOs estudos experimentais utilizam mecanismos aleatórios (isto é, sorteios) para definir quem será e quem não será contemplado por um determinado programa ou política pública, garantindo que as diferenças futuras entre estes grupos possam ser atribuídas com maior credibilidade à intervenção em si — e não a diferenças entre quem é e quem não é "tratado". em 87 municípios nos departamentos de Cundinamarca, Boyacá e Santander, na Colômbia. O FAMI foi originalmente estabelecido em 1991 na Colômbia pelo Instituto Colombiano de Bienestar Familiar.  Em 2013, quando as mudanças ao FAMI foram apresentadas, aproximadamente 225.000 famílias eram contempladas pelo programa.

Como é o desenho?

O FAMI tinha como objetivo melhorar os serviços pré- e pós-natal para mulheres grávidas em situação de vulnerabilidade, alcançando também seus filhos, do nascimento até 2 anos e se baseava, essencialmente, em sessões semanais em grupo — envolvendo mães e suas filhas e/ou filhos — e em uma visita domiciliar mensal. Na maioria das vezes, as sessões eram semelhantes a palestras, nas quais os facilitadores do programa — normalmente, profissionais locais de saúde — discutiam um determinado tópico auxiliado por recursos visuais. Nessas sessões, os bebês permaneciam em seus carrinhos de bebê ou sentados no colo das mães, sem participação direta.

Os tópicos cobertos eram bastante variados, incluindo apoio comunitário, amizade, amamentação, atendimento odontológico e gravidez na adolescência, embora algumas sessões se dedicassem aos temas da parentalidade responsiva e desenvolvimento infantil. Apesar de abordar um amplo espectro de tópicos, no entanto, o programa não usava nenhum currículo ou protocolo estruturado: o que cobrir e como era inteiramente da responsabilidade do facilitador. Assim, uma das motivações da introdução das mudanças implementadas a partir de 2014, e descritas abaixo, foi de que as diretrizes operacionais do programa eram muito vagas e, na prática, forneciam pouca estrutura ou orientação aos implementadores.

A reestruturação operacional teve como foco mães e crianças de 0 a 2 anos de famílias pobres e duração aproximada de 10 meses. Em primeiro lugar, foi implementado um currículo estruturado de estimulação na primeira infância e de aprimoramento dos conhecimentos maternos sobre práticas em alimentação e nutrição. Este currículo instituiu um protocolo para as visitas domiciliares, segundo o qual implementadores mostrariam formas simples de melhorar a relação entre mãe e criança — por exemplo, por meio de práticas parentais positivas e responsivas, em vez de práticas punitivas — e encorajariam as cuidadoras a brincar com as crianças usando brinquedos feitos de materiais recicláveis de fácil acesso ou livros com figuras, instruindo-as a integrar atividades que estimulavam o desenvolvimento infantil em suas rotinas diárias.¹ O currículo foi pensado como algo que futuramente seria implementado em escala, por pessoas que não tinham conhecimento especializado sobre o desenvolvimento infantil. Por esse motivo, todo o material oferecia orientações precisas sobre como ele deveria ser cumprido.

No contexto específico da reestruturação do FAMI, o currículo foi adaptado para uso nas sessões semanais em grupo e também na visita domiciliar mensal, ambas com duração de aproximadamente 1 hora. Ele incluía materiais a serem usados durante as sessões, incluindo livros apropriados para a idade, quebra-cabeças, brinquedos caseiros, fotos, blocos de construção e cartões de nutrição. Seguindo as novas instruções, cada sessão em grupo foi estruturada em sete momentos distintos:

  1. chegada e jogo livre;
  2. discussão sobre a sessão de grupo anterior, com duração de 10 minutos;
  3. momento de música, com duração de 5 minutos;
  4. demonstração e prática de atividades lúdicas e de linguagem adequadas à idade com materiais que seriam levados para casa, com duração de aproximadamente 30 minutos;
  5. discussão sobre um tema ou atividade parental, com duração de 15 minutos, incluindo questões como a importância de estimular a criança com brincadeiras, elogiá-la e se dirigir a ela, atividades lúdicas para fazer na hora do banho ou das refeições, aprender a confiar e entender os sentimentos da criança, entre outros;
  6. revisão de tópicos trabalhados na sessão, para garantir que as mães compreenderam as atividades e reforçar o compromisso de praticar com os filhos em casa, com duração de 10 minutos;
  7. e, por fim, distribuição de um lanche.²

As visitas domiciliares, por sua vez, proporcionavam a oportunidade de introduzir atividades que eram específicas ao estágio de desenvolvimento da criança (como quebra-cabeças e atividades de linguagem adicionais).

A segunda modificação implementada foi de caráter nutricional. Por um lado, foi adicionado um suplemento de melhor qualidade do que aquele normalmente recebido pelos participantes do programa FAMI, que provia agora 35% da quantidade necessária mensal de calorias para a criança contemplada. Além disso, tanto as sessões semanais quanto as visitas domiciliares passaram a incorporar de maneira mais clara componentes de educação nutricional, como livros de receitas e cartões com nutrição apropriada para a idade, que eram discutidos. Os tópicos abordados incluíram coisas como amamentação, alimentação com mamadeira, extração e armazenamento do leite materno, desmame, higiene, salgadinhos, ideias para o menu, horários das refeições e bate-papo durante a alimentação.

A capacitação das implementadoras do FAMI foi realizada por um time de psicólogos e assistentes sociais durante um período de aproximadamente 3 semanas ao mês, totalizando 85 horas. Esta capacitação incluiu exercícios práticos de demonstração e devolutivas sobre como conduzir as reuniões semanais e as interações dedicadas ao brincar, além de instruções sobre como construir os brinquedos feitos à mão. Mesmo após encerrado o período de treinamento, um grupo de tutores treinou e supervisionou, de formar itinerante, as implementadoras FAMI durante todo o período de introdução das mudanças.³

O que aprendemos com o monitoramento e avaliação?

Foram documentadas, no artigo para discussão listado na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito sobre o impacto causal da reestruturação operacional e aprimoramento do programa FAMI:

  • aumento de 30% de um desvio-padrãoO desvio-padrão mede a dispersão de valores de uma variável - valores mais altos indicam maior ocorrência de valores longe da média e valores mais baixos refletem maior concentração de valores próximos à média. Para a distribuição normal, ou para distribuições razoavelmente similares a uma normal, um aumento de 10% de um desvio-padrão equivale a um efeito de 4 percentis a partir do percentil 50 - isto é, a passar da posição 50 para a posição 54, em uma fila de 100. em um indicador da qualidade dos recursos para estimulação infantil no ambiente doméstico, que incorporava informação sobre, por exemplo, o número de revistas, livros, jornais e brinquedos, ao fim do período de 10 meses de exposição [1];
  • não foram encontradas evidências de efeitos estatisticamente significantesChamam-se de estatisticamente significantes as estimativas de impacto que são distinguíveis do valor zero, após incorporada à análise as incertezas associadas à generalização para outras amostras de indivíduos. do programa sobre o conhecimento das mães a respeito do estágio de desenvolvimento em que sua filha ou filho se encontrava ou sobre autoeficácia materna, no mesmo horizonte temporal dos resultados acima [1];
  • embora, em média, não tenha sido encontrado efeito estatisticamente significante em um indicador antropométrico normalizado de altura por idade, pôde-se observar melhorias para as crianças com retardos de crescimento: em particular, houve redução de 37% (ou 5,8 pontos percentuaisO efeito de um programa em termos percentuais (%) é diferente do efeito do programa em pontos percentuais. Por exemplo, se uma variável binária tem média de 10%, um efeito de 5 pontos percentuais representa aumento de 50%.) na taxa de crianças com indicador um desvio-padrão abaixo da norma internacional [1];
  • aumento de 16% de um desvio-padrão em um indicador de desenvolvimento infantil global, que continha informação sobre cognição, vocabulário expressivo e receptivo, e coordenação motora fina e grossa, ao final da exposição ao programa reestruturado [1];
  • o efeito descrito acima foi impulsionado por melhorias para grupo de crianças que viviam em domicílios mais pobres, para os quais houve aumento de 29% de um desvio-padrão no mesmo indicador de desenvolvimento infantil [1];
  • não foi encontrado efeito estatisticamente significante sobre indicadores de desenvolvimento socioemocional na primeira infância, o que é interpretado pelos autores como resultado que o programa teve um componente intensivo de estimulação cognitiva nas visitas e nas sessões, embora práticas de paternidade responsiva — que são as mais efetivas na dimensão socioemocional — tenham sido transmitidas predominantemente nas discussões em grupo [1].
  1. A elaboração do currículo teve por inspiração principal o Reach Up and Learn, uma intervenção concebida na Jamaica na década de 1970, que foi monitorada e avaliada ao longo dos anos subsequentes. Currículos semelhantes, após adaptação ao contexto cultural específico, foram implementados com sucesso em diversos ambientes, e havia, à época, evidência sobre impactos positivos em outras cidades da Colômbia.
  2. A intervenção também incluiu sessões complementares para ensinar as mães a construir brinquedos caseiros com materiais recicláveis que pudessem ser usados para praticar as atividades propostas em casa. Dessa forma, a maioria das mães conseguiu montar uma brinquedoteca para uso doméstico.
  3. A remuneração não sofreu nenhum tipo de alteração, e não havia obrigação legal ou incentivo monetário adicional para implementar as mudanças operacionais descritas acima, embora tenham sido fortemente encorajados a fazê-lo.

Quais as fontes bibliográficas dessa informação?

  1. Attanasio, O., Baker-Henningham, H., Bernal, R., Meghir, C., Pineda, D., & Rubio-Codina, M. (2022). Early Stimulation and Nutrition: The Impacts of a Scalable Intervention. Journal of the European Economic Association, 20(4), 1395-1432.

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