← voltar para plataforma impacto

Expansão dos Centros Públicos Head Start de Educação Infantil nos Estados Unidos na Década de 1980

Publicado em 18/09/2024
Compartilhe:

Qual o objetivo?

Quebrar o vínculo entre a pobreza infantil e o baixo preparo para início da vida escolar, promovendo o desenvolvimento intelectual, social e físico de crianças em contextos de vulnerabilidade social.

Onde e quando?

Os programa Head Start foi implementado a partir de 1965 nos Estados Unidos, com financiamento do Office of Economic Opportunity. Os resultados abaixo se referem a estudos observacionais que usam dados de crianças afetadas pela expansão que ocorreu dos centros pelo território nacional americano na década de 1980.

Como é o desenho?

Os centros ligados ao programa Head Start tinham abrangência nacional e focalização em crianças de 3 a 5 anos, oriundas de famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade social.¹ Eles ofereciam serviços por 9 meses no ano, pelo dia inteiro ou por meio período, e a extensão da matrícula era limitada a um máximo de 2 anos por criança. Embora fossem administrados localmente, a qualidade era regulada por um conjunto de diretrizes federais.

Os centros partiam de uma concepção holística que priorizava diferentes aspectos do desenvolvimento infantil, como saúde, autoconfiança, habilidades verbais, e a importância do envolvimento dos pais.²

As atividades de apoio à saúde infantil formavam o primeiro grupo de componentes dos centros. Eram fornecidas às crianças serviços de imunização — para, por exemplo, poliomielite e sarampo —, triagens para identificação de condições como tuberculose, deficiências nutricionais, anemias e diabete, além de triagens oculares, auditivas e de saúde bucal e encaminhamentos a médicos. Assim, os centros cumpriram o papel de intermediários entre as famílias e serviços públicos de atenção primária à saúde infantil. Além disso, eram oferecidas merendas, com papel fundamental na suplementação nutricional e calórica. Por fim, e ainda no âmbito da saúde, os centros contavam com apoio de profissionais que auxiliavam na identificação de problemas de saúde mental entre as crianças e ajudavam no acesso ao tratamento adequado.

O segundo componente dos centros era o apoio por meio de serviços de assistência social. Assim, por exemplo, a equipe de funcionários contava com profissionais que proviam apoio a famílias que enfrentavam problemas domésticos. O terceiro e último componente, também oferecido por profissionais ligados aos centros, era o de apoio aos pais no acompanhamento do desenvolvimento das crianças.³

O que aprendemos com o monitoramento e avaliação?

Foram documentadas, nos artigos listados na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito do impacto causal da introdução do programa entre os anos de 1980 e 1990, nas crianças contempladas:

  • aumento de 15% de um desvio-padrãoO desvio-padrão mede a dispersão de valores de uma variável - valores mais altos indicam maior ocorrência de valores longe da média e valores mais baixos refletem maior concentração de valores próximos à média. Para a distribuição normal, ou para distribuições razoavelmente similares a uma normal, um aumento de 10% de um desvio-padrão equivale a um efeito de 4 percentis a partir do percentil 50 - isto é, a passar da posição 50 para a posição 54, em uma fila de 100. em um indicador de desenvolvimento de linguagem (conhecimento de vocabulário e linguagem receptiva), numeracia, alfabetização e princípios de leitura, construído com informação coletada aos 5 ou 6 anos [1];
  • aumento de 13% de um desvio padrão em um indicador de desenvolvimento de linguagem (conhecimento de vocabulário e linguagem receptiva), numeracia, alfabetização e princípios de leitura, construído com informação coletada dos 7 aos 10 anos [1];
  • há evidências de que os efeitos positivos descritos acima se dissiparam parcial ou integralmente nos anos seguintes, quando as crianças afetadas pelo programa tinham de 11 a 14 anos [1];
  • redução de 29% (ou 1,3 pontos percentuais) na taxa de obesidade entre meninos, averiguada aos 12 ou 13 anos [2];
  • redução de 65% de um desvio padrão em um indicador de problemas de comportamento entre meninos, calculado com informação coletada aos 12 ou 13 anos [2];
  • redução de 55% de um desvio padrão em um indicador de sintomas depressivos entre meninos, calculado com informação coletada aos 16 ou 17 anos [2];
  • redução de 22% (ou 0,8 pontos percentuais) na taxa de meninos que vieram a ser sentenciados por algum tipo de crime até os 21 anos [2].

Nos anos 2000, um estudo experimental avaliou o impacto dos centros Head Start em uma amostra de crianças, encontrando resultados positivos de curto prazo [3-5].

  1. As diretrizes para financiamento estabeleceram que pelo menos 90% das crianças em cada centro deveriam pertencer a domicílios abaixo da linha federal de pobreza à época e pelo menos 10% das crianças teriam que ter algum tipo de deficiência física ou mental.
  2. Ao contrário de alguns programas modelo de educação infantil, mais caros e de pequena escala, como o HighScope Perry Preschool e o Abecedarian, os arquitetos da expansão dos centros Head Start priorizaram o acesso generalizado, calculando que uma expansão maciça da pré-escola maximizaria seus benefícios de combate à pobreza.
  3. Os diferentes aspectos prioritários do desenvolvimento infantil são refletidos nas diretrizes orçamentárias do programa em 1966 e 1967: 70% dos recursos se destinaram às atividades diárias dos centros, 20% se destinaram a serviços de saúde e suplementação nutricional e o restante a formas de estimular o envolvimento dos pais, serviços sociais – como apoio a famílias que enfrentavam problemas domésticos – e serviços relacionados à saúde mental.

Quais as fontes bibliográficas dessa informação?

  1. Deming, D. (2009). Early Childhood Intervention and Life-Cycle Skill Development: Evidence from Head Start. American Economic Journal: Applied Economics, 1(3), 111-34.
  2. Carneiro, P., & Ginja, R. (2014). Long-term Impacts of Compensatory Preschool on Health and Behavior: Evidence from Head Start. American Economic Journal: Economic Policy, 6(4), 135-73.
  3. Bitler, M. P., Hoynes, H., & Domina, T. (2014). Experimental Evidence on Distributional Effects of Head Start. National Bureau of Economic Research Working Paper.
  4. Gelber, A., & Isen, A. (2013). Children’s Schooling and Parents’ behavior: Evidence from the Head Start Impact Study. Journal of Public Economics, 101, 25-38.
  5. Puma, M., Bell, S., Cook, R., Heid, C., & Lopez, M. (2005). Head Start Impact Study: First Year Findings. Administration for Children & Families.

Estamos trabalhando para que as páginas contemplem toda a evidência documentada sobre o tema e estejam sempre atualizadas. Se você quiser sugerir algum artigo, entre em contato.