Cresça com Seu Filho e Integração de Estimulação na Primeira Infância às Atividades da Estratégia Saúde da Família em Fortaleza
Cresça com Seu Filho e Integração de Estimulação na Primeira Infância às Atividades da Estratégia Saúde da Família em Fortaleza
Qual era o objetivo?
Integrar ações de desenvolvimento infantil às rotinas dos trabalhadores da atenção primária em saúde.
Onde e quando?
O Cresça com Seu Filho foi implementado a partir de 2014 em Fortaleza, no Ceará, Brasil, em um modelo integrado ao funcionamento da Estratégia Saúde da Família no município. As informações abaixo referem-se a um estudo experimentalOs estudos experimentais utilizam mecanismos aleatórios (isto é, sorteios) para definir quem será e quem não será contemplado por um determinado programa ou política pública, garantindo que as diferenças futuras entre estes grupos possam ser atribuídas com maior credibilidade à intervenção em si — e não a diferenças entre quem é e quem não é "tratado". realizado entre 2016 e 2019, envolvendo 2.292 crianças de 0 a 3 anos em 480 áreas de saúde.
Como era o desenho?
A ideia central da iniciativa foi avaliar se o treino de agentes comunitários de saúde ligados ao Estratégia Saúde da Família no currículo Reach Up and Learn de parentalidade, desenvolvido originalmente na Jamaica poderia gerar impactos positivos sobre o desenvolvimento cognitivo, de linguagem, motor e socioemocional de crianças das famílias acompanhadas pelos agentes. O modelo envolve visitas domiciliares periódicas com o uso de brinquedos simples —muitas vezes confeccionados com materiais disponíveis no domicílio— e de atividades lúdicas. Essas atividades criam oportunidades para que os visitadores orientem as cuidadoras e a família sobre como estimular a linguagem, a cognição, a motricidade e as habilidades socioemocionais das crianças, por meio de interações responsivas no cotidiano. A ênfase do programa recai sobre o ensino de práticas parentais responsivas: o uso de disciplina positiva, a explicação de regras, a modelagem de comportamentos, a redução de castigos físicos e o estímulo à comunicação verbal entre adulto e criança.
As famílias elegíveis eram compostas por crianças de 0 a 28 meses, com renda per capita de até 500 reais e inscritas no Cadastro Único. A intenção de cobertura, quando do desenvolvimento do plano do programa, era que cada criança fosse visitada semanalmente por até 2 anos, ou até completar 3 anos de idade. O plano também previa que cada agente comunitário de saúde dedicasse 16 horas semanais ao novo programa, realizando, pelo menos, 9 visitas domiciliares por semana, registrando-as em sistema eletrônico e participando de reuniões de supervisão. As atividades foram organizadas em módulos por faixa etária, 0–6 meses, 6–12 meses, 1–2 anos e 2–3 anos. Os agentes acumularam tarefas relacionadas à estimulação com atribuições de sua rotina na atenção primária à saúde, e não houve compensação direta nem ajuste no total de famílias acompanhadas.
Nas visitas, com duração planejada de 1 hora, o protocolo indicava que o agente iniciaria o contato com o cuidador perguntando sobre a saúde da criança, conferindo a caderneta de saúde e abordando temas como aleitamento materno, vacinação, higiene e prevenção de acidentes, articulando informações sobre prevenção em saúde às demandas da família. Em seguida, ele demonstraria atividades lúdicas adequadas à idade, voltadas ao desenvolvimento motor, cognitivo, de linguagem e socioemocional, incentivando o cuidador a brincar, conversar, cantar e responder aos sinais da criança de forma calorosa e sensível.
A operacionalização da iniciativa incluiu capacitação dos servidores públicos envolvidos. Agentes comunitários de saúde e enfermeiras receberam treinamento estruturado em desenvolvimento infantil, no uso do currículo, na condução de visitas domiciliares e no registro de informações. Além disso, foi desenhado um sistema de supervisão individual e em grupo, no qual as enfermeiras observavam as visitas, apoiavam o uso dos materiais e discutiam dificuldades práticas enfrentadas.
O que aprendemos com o monitoramento e avaliação?
Foram documentadas, no artigo listado na seção abaixo, as seguintes evidências de monitoramento e impacto:
- o estudo estimou um custo anual por criança de implementação de R$1.004,00 [1];
- a adesão foi bem menor do que a prevista:
- apenas cerca de 11% das crianças em áreas contempladas pelo programa chegaram a receber pelo menos uma visita registrada, e a média entre essas crianças foi de cerca de 16 visitas ao longo de aproximadamente 3 anos, em vez das mais de 40 visitas anuais planejadas [1];
- muitas visitas duraram menos que a hora prevista e havia intervalos médios de quase 3 semanas entre uma visita e outra, refletindo limitações de carga de trabalho, segurança em algumas áreas e priorização de outras tarefas pelos agentes comunitários de saúde [1];
- os esforços de integração do Cresça com seu Filho geraram alguns resultados positivos no ambiente familiar:
- ao final do período de acompanhamento, houve aumento de 12% de um desvio-padrãoO desvio-padrão mede a dispersão de valores de uma variável —valores mais altos indicam ocorrência de valores longe da média e valores mais baixos refletem maior concentração de valores próximos à média. Uma forma de interpretar efeitos medidos na escala de desvios-padrão, que é usada para tornar comparáveis provas usadas em diferentes contextos, é: "A cada aumento de 10% de um desvio-padrão equivale, aproximadamente, um salto de 4 posições a partir do aluno mediano (isto é, na posição 50)". Um aumento de 30% de um desvio-padrão, por exemplo, equivaleria a passar da posição 50 para a posição 62 (isto é, 30%/10% x 4 posições). Essas aproximações se tornam menos precisas para efeitos muito grandes. em um indicador de responsividade e manejo de comportamento na interação cuidador–criança, com informação sobre a capacidade de aceitação da criança e do uso de disciplina positiva pela redução de estratégias punitivas [1];
- não foram, no entanto, encontrados efeitos estatisticamente significantesChamam-se de estatisticamente significantes as estimativas de impacto que são distinguíveis de 0, após incorporadas à análise as incertezas associadas à generalização para outras amostras de indivíduos e estudos. em um indicador de estimulação cognitiva no lar, que continha informação sobre a diversidade de brinquedos, livros e atividades de aprendizagem, nem sobre um indicador de investimentos de tempo e atividades dos cuidadores com as crianças, como ler histórias, contar relatos, cantar e brincar de forma estruturada [1];
- por fim, não foram encontrados efeitos estatisticamente significantes ou quantitativamente relevantes em um indicador de desenvolvimento infantil, com informação sobre linguagem, motricidade fina e habilidades socioemocionais, medido cerca de 3 anos após o início da implementação do estudo [1].¹
- Os efeitos estimados são próximos de zero, e a avaliação tinha poder estatístico suficiente para detectar ganhos de cerca de 17% de um desvio-padrãoO desvio-padrão mede a dispersão de valores de uma variável —valores mais altos indicam ocorrência de valores longe da média e valores mais baixos refletem maior concentração de valores próximos à média. Uma forma de interpretar efeitos medidos na escala de desvios-padrão, que é usada para tornar comparáveis provas usadas em diferentes contextos, é: "A cada aumento de 10% de um desvio-padrão equivale, aproximadamente, um salto de 4 posições a partir do aluno mediano (isto é, na posição 50)". Um aumento de 30% de um desvio-padrão, por exemplo, equivaleria a passar da posição 50 para a posição 62 (isto é, 30%/10% x 4 posições). Essas aproximações se tornam menos precisas para efeitos muito grandes.. Uma das interpretações do resultado, discutida pelos autores, é que houve aumento na gama de tarefas atribuídas aos agentes comunitários de saúde, sem aumento proporcional de recursos humanos. De fato, os agentes acumularam visitas de estimulação com atribuições de sua rotina, e não houve compensação direta nem ajuste no total de famílias acompanhadas. Ao longo da implementação, foram criados incentivos, como bônus por desempenho e a distribuição de tablets para o agente com maior número de visitas registradas, na tentativa de aumentar a adesão às rotinas do programa. Houve um aumento modesto no número de visitas após a introdução de bônus por desempenho, com aumento concentrado entre agentes que já realizavam mais visitas e estavam próximos da meta mínima. Portanto, incentivos financeiros, isoladamente, não foram suficientes para garantir a intensidade necessária das visitas domiciliares em toda a rede. Considerados conjuntamente, esses resultados mostram que um dos desafios à efetividade da integração de visitas domiciliares de desenvolvimento infantil a serviços de saúde é criar protocolos incorporáveis à rotina diária, que garantam um volume suficiente de visitas, que contem com supervisão próxima, mas ajustada às realidades do dia-a-dia dos agentes, e partam de um enquadramento claro de prioridades.
Quais as fontes da informação?
- Boo, F. L., de la Paz Ferro, M., & Carneiro, P. (2025). Effects of Integrating Early Childhood with Health Services: Experimental Evidence from the Cresca com Seu Filho Home-Visiting Program. Journal of Human Capital, 19(1), 169-192.
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