Estudo Experimental de Integração de Estimulação na Primeira Infância a Transferências de Renda no Bangladesh

Integrar ações de estimulação a programas de garantia de renda mínima destinados a mães em situação de pobreza.

A iniciativa foi implementada entre 2017 e 2018 em áreas rurais do subdistrito de Ullapara, no Bangladesh, no contexto de um estudo experimentalOs estudos experimentais utilizam mecanismos aleatórios (isto é, sorteios) para definir quem será e quem não será contemplado por um determinado programa ou política pública, garantindo que as diferenças futuras entre estes grupos possam ser atribuídas com maior credibilidade à intervenção em si — e não a diferenças entre quem é e quem não é "tratado". que utiliza dados de 594 díades mãe-criança de 6 a 16 meses em 33 regiões.

As famílias-alvo do estudo foram beneficiárias do programa nacional de transferências de renda para mães em situação de pobreza que pagava um montante de 500 taka (cerca de 6,25 dólares, à época do estudo) como benefício-maternidade.¹ A ideia central da iniciativa foi avaliar se um programa de estimulação na primeira infância, realizado por meio de visitas domiciliares e baseado no currículo Reach Up and Learn de parentalidade, desenvolvido originalmente na Jamaica, poderia ser integrado ao desenho das transferências de renda e melhorar, com isso, o desenvolvimento cognitivo, de linguagem, motor e socioemocional de crianças das famílias participantes.

O modelo envolve visitas domiciliares periódicas, nesse caso quinzenais, com duração de 40 a 60 minutos durante 2 anos, com o uso de brinquedos simples —muitas vezes confeccionados com materiais disponíveis no domicílio— e de atividades lúdicas. Essas atividades criam oportunidades para que os visitadores orientem as cuidadoras e a família sobre como estimular a linguagem, a cognição, a motricidade e as habilidades socioemocionais das crianças, por meio de interações responsivas no cotidiano. Uma das características mais marcantes do modelo é a existência de um protocolo claro para os visitadores. Cada visita trabalha atividades adequadas à idade da criança, seguindo um roteiro estruturado com propostas de brincadeiras e mensagens de orientação sobre práticas de cuidado e estímulo.

O currículo foi adaptado contextualmente e propôs sessões que seguiam uma sequência padrão:

1. criação de vínculo com mãe e criança;
2. retomada de orientações e atividades da visita anterior;
3. cantigas ou rimas;
4. brincadeiras com brinquedos simples e livros de figuras apropriados à idade;
5. mensagens breves sobre nutrição e higiene;
6. discussão de atividades a serem repetidas no ambiente doméstico.

Para a operacionalização da iniciativa, agentes comunitárias de saúde, mulheres locais com ensino médio completo e residentes na área foram selecionadas com apoio de líderes comunitários. Elas receberam 10 dias de formação teórica e prática, conduzida por uma supervisora com mestrado em psicologia, que também supervisionava algumas visitas para garantir a qualidade das sessões. Cada agente fazia entre 3 e 4 sessões por dia, 6 dias por semana.

Foram documentadas, no artigo listado na seção abaixo, as seguintes evidências:

• a iniciativa teve impacto positivo sobre práticas parentais e o ambiente de cuidado:
  • houve aumento de 104% de um desvio-padrãoO desvio-padrão mede a dispersão de valores de uma variável —valores mais altos indicam ocorrência de valores longe da média e valores mais baixos refletem maior concentração de valores próximos à média. Uma forma de interpretar efeitos medidos na escala de desvios-padrão, que é usada para tornar comparáveis provas usadas em diferentes contextos, é: "A cada aumento de 10% de um desvio-padrão equivale, aproximadamente, um salto de 4 posições a partir do aluno mediano (isto é, na posição 50)". Um aumento de 30% de um desvio-padrão, por exemplo, equivaleria a passar da posição 50 para a posição 62 (isto é, 30%/10% x 4 posições). Essas aproximações se tornam menos precisas para efeitos muito grandes. na qualidade da estimulação no lar, medida por indicadores como disponibilidade de brinquedos, livros e atividades de brincadeira e conversa com adultos [1];
  • houve, além disso, aumento de 48% de um desvio-padrão em um indicador de autoestima das mães [1];²
• foram observadas melhorias expressivas em indicadores de desenvolvimento infantil, no horizonte de 1 ano após o início da implementação:
  • houve, em particular, aumento de cerca de 32% de um desvio-padrão em um indicador de desenvolvimento cognitivo e de 24% de um desvio-padrão em um indicador de desenvolvimento da linguagem [1];
  • além disso, houve aumento 22% de um desvio-padrão em um indicador de desenvolvimento motor [1];
  • por fim, crianças contempladas pelas novas atividades de estimulação foram, em média, mais responsivas ao examinador, mais cooperativas, apresentaram tom emocional mais positivo e maior vocalização, com efeitos de 26% a 27% de um desvio-padrão [1].
• não foram encontradas evidências de efeitos estatisticamente significantesChamam-se de estatisticamente significantes as estimativas de impacto que são distinguíveis de 0, após incorporadas à análise as incertezas associadas à generalização para outras amostras de indivíduos e estudos. em indicadores antropométricos de desenvolvimento físico, como índices normalizados de peso-por-idade e altura-por-idade [1];
• por fim, foram encontradas evidências de que os componentes do programa reduziram a ocorrência de eventos de violência física, mental ou sexual vivenciadas pelas mulheres das famílias contempladas [1].³