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Extensão da Duração da Licença Maternidade pelo Programa Empresa Cidadã no Brasil

Publicado em 30/05/2024 Atualizado em 06/06/2024
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Qual o objetivo?

Estimular a retenção de mão de obra feminina e apoiar o exercício prolongado da maternidade nos primeiros meses de vida.

Onde e quando?

O Programa Empresa Cidadã foi criado em 2010, pelo governo do Brasil, e implementado por meio de adesão voluntária de empresas nos anos subsequentes. Os resultados abaixo se referem a um estudo observacional que usa dados do universo de empresas e de trabalhadoras formais que saíram de licença maternidade entre 2009 e 2015.

Como é o desenho?

Desde 1988, as mulheres brasileiras que têm um emprego formal no momento do início da gravidez têm direito à licença maternidade remunerada de 120 dias, ou aproximadamente 4 meses, com proteção ao emprego e salário integral. Qualquer rescisão por parte do empregador durante este período de proteção ao emprego é considerada ilegal.

O Empresa Cidadã criou a possibilidade de que empresas estendessem o período de licença em 60 dias, mantendo a reposição salarial integral, mas sem gozar de proteção ao emprego. Para induzir a participação de empresas, foi criado um incentivo fiscal de dedução dos custos salariais do imposto de renda.¹ A participação no programa implicava, necessariamente, que a extensão da licença deveria ser oferecida a todas as mães, que, por sua vez, poderiam escolher por aderir em até 30 dias após o parto.

O que aprendemos com o monitoramento e avaliação?

Foram documentadas, no artigo listado na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito do monitoramento e do impacto causal do Empresa Cidadã:

  • entre 2010 e 2020, aproximadamente 20.000 empresas aderiram ao programa, e a enorme maioria (perto de 80%) das adesões ocorreram em 2010 ou 2011 [1];
  • as empresas que adotaram o programa de forma mais célere tinham mais empregados nas suas folhas de pagamento, pagavam salários maiores e se situavam em regiões geográficas com índices maiores de desenvolvimento [1];²
  • após a adesão das empresas que as empregavam ao programa, em média, 36 a cada 100 mulheres elegíveis fizeram uso da extensão, o que implicou um aumento médio de 23 a 25 dias no tempo total de licença [1];
  • as mulheres elegíveis que fizeram uso da extensão, tendiam, com maior probabilidade, a serem brancas, a terem ensino superior completo, e a trabalhar há mais tempo nas empresas em que estavam [1];
  • além disso, quando uma empresa passa a participar do programa, mulheres elegíveis com alta escolarização passam usar a extensão de forma mais célere do que mulheres menos escolarizadas, mas essa diferença diferença com o tempo, o que sugere um papel importante para a transmissão de informação na atenuação do gradiente de participação descrito imediatamente acima [1];
  • aumento de 3,4% e 4,1% (ou de 3,3 e 3,7 pontos percentuaisO efeito de um programa em termos percentuais (%) é diferente do efeito do programa em pontos percentuais. Por exemplo, se uma variável binária tem média de 10%, um efeito de 5 pontos percentuais representa aumento de 50%.) na taxa de emprego das mulheres elegíveis, no horizonte de 6 e 7 meses após a entrada no período de licença, embora os efeitos se atenuem de 10 meses após a entrada em diante, sugerindo um impacto limitado de longo prazo sobre a retenção de mão de obra feminina [1].³
  1. Por regra, apenas empresas no regime de lucro real podem deduzir os custos salariais do programa.
  2. Evidências qualitativas de surveys aplicados em uma amostra de firmas que aderiram ao programa revelam que elas também tendiam a estar mais alinhadas com posturas favoráveis à igualdade de gênero e a ter adotado medidas anteriores em direção a essa meta — como regimes mais flexíveis de trabalho para mães, salas de amamentação e outras formas de suporte a cuidados na primeira infância. Na pesquisa, muitas empresas relataram falta de conhecimento sobre o Empresa Cidadã e ceticismo quanto à sua viabilidade financeira (consistência com o fluxo de caixa) como razões para não participarem do programa.
  3. Há evidências de que entrada de uma empresa no programa também tenha sido acompanhada de um comportamento de tipo estratégico por parte das empresas e das trabalhadoras: algumas mulheres se demitem voluntariamente logo depois que o período da extensão termina, e outras são demitidas logo após voltarem.

Quais as fontes bibliográficas dessa informação?

  1. Machado, C., Neto, V., & Szerman, C. (2024). Firm and Worker Responses to Extensions in Paid Maternity LeaveJournal of Human Resources.
  2. Family Talks and 4Daddy (2022). Relatório: Pesquisa Licenccas Maternidade e Paternidade nas Empresas.

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