Participação Comunitária e Instrumentos de Monitoramento de Postos de Saúde em Uganda

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Participação Comunitária e Instrumentos de Monitoramento de Postos de Saúde em Uganda

Publicado em 04/03/2025 Atualizado em 04/04/2025
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Qual era o objetivo?

Aumentar a cobertura e aprimorar a qualidade do cuidado recebido por mães e crianças.

Onde e quando?

A iniciativa foi implementada em 2005, em Uganda, no contexto de um estudo experimentalOs estudos experimentais utilizam mecanismos aleatórios (isto é, sorteios) para definir quem será e quem não será contemplado por um determinado programa ou política pública, garantindo que as diferenças futuras entre estes grupos possam ser atribuídas com maior credibilidade à intervenção em si — e não a diferenças entre quem é e quem não é "tratado". envolvendo 50 unidades de saúde, e aproximadamente 5.000 famílias em suas áreas de abrangência.

Como era o desenho?

Um dos principais braços operacionais da atenção primária à saúde em Uganda são postos de saúde integrados por médicos, enfermeiros, e profissionais assistentes. Cada posto provê atendimento sem custo a famílias, com foco em:

  1. promoção e prevenção em saúde;
  2. partos e atenção à saúde neonatal;
  3. enfermaria geral e atendimentos ambulatoriais;
  4. procedimentos laboratoriais.

A ideia central da iniciativa foi encorajar usuários e servidores públicos a desenvolverem uma visão compartilhada da qualidade desses serviços e empoderar as comunidades contempladas com instrumentos concretos de monitoramento. O protocolo de implementação seguiu três etapas principais:

  1. organização de 2 encontros presenciais entre profissionais dos postos de saúde e membros das suas comunidades, onde foram compartilhados cartões com 4 indicadores de desempenho: (1.i) tempo médio de fila para atendimento; (1.ii) disponibilidade de medicamentos; (1.iii) relatos de cobrança ilegal por atendimentos; (1.iv) relatos de motivos para não ter dado à luz ou para não realizar acompanhamento de pré-natal;¹
  2. reunião conjunta entre profissionais de saúde e usuários para formular um plano de ações e definir responsáveis por sua implementação;
  3. organização de encontro de realinhamento com relação ao plano e monitoramento de progresso, 6 meses após o início da implementação.

O que as evidências sugerem?

Foram documentadas, no artigo listado na seção abaixo, as seguintes evidências de monitoramento e impacto:

  • a iniciativa teve sucesso em mobilizar integrantes das comunidades para os encontros, com participação média de mais de 150 pessoas nos encontros iniciais [1];
  • dados coletados por meio de observações in loco dos postos de saúde sugerem que o projeto teve sucesso em estimular a adesão de instrumentos de monitoramento e outros aprimoramentos, como caixas de sugestões, filas organizadas em ordem numérica, e uso de cartazes com informação sobre gratuidade dos serviços e sobre direitos e deveres dos pacientes [1];
  • as ações de participação comunitária e o uso de instrumentos de monitoramento engendraram mudanças no comportamento dos provedores:
    • houve, por exemplo, redução de 28% (ou de 13 pontos percentuaisO efeito de um programa em termos percentuais (%) é diferente do efeito do programa em pontos percentuais! Por exemplo, se uma variável binária teria média de 10% na ausência da iniciativa, um impacto de 5 pontos percentuais representa um aumento de 50% (=5/10).) na taxa de absenteísmo e reduções de 4% a 9% (ou de 5,2 a 12 minutosO efeito de um programa em termos percentuais (%) é diferente do efeito do programa medido em minutos! Por exemplo, um impacto de 2 minutos em um intervalo de tempo que duraria 1 hora na ausência da iniciativa representa um aumento de cerca de 33% (=2/60).) no tempo médio de espera para atendimento nos postos de saúde [1];
  • também houve impacto positivo sobre a utilização dos serviços prestados pelos postos de saúde, no horizonte de 1 ano e meio após o início da implementação do estudo:
    • houve, em particular, aumento de 20% no número médio de pessoas das comunidades contempladas que procuraram os postos de saúde [1];
    • além disso, foram encontradas evidências de aumentos da ordem de 40% na taxa de crianças de 0 a 5 anos com o calendário de imunizações completas para vacinas como BCG, sarampo, poliomelite e DPT, e aumentos na taxa de crianças que tinham recebido cápsulas de vitamina A [1,2];
    • aumento de 19% no número de mulheres grávidas que realizaram acompanhamentos durante o pré-natal [1]
  • por fim, foram encontradas evidências de efeitos expressivos em indicadores de saúde infantil, também no horizonte de 1 ano e meio após o início da implementação do estudo:
    • houve, por exemplo, redução de 33% na taxa de mortalidade infantil, nas áreas de abrangência dos postos de saúde participantes, o que implicaria 550 mortes de crianças de 0 a 5 anos nas áreas contempladas [1];
    • aumento de 14% de um desvio-padrão em um indicador normalizado de peso-por-altura [1]
  • os efeitos sobre utilização e saúde infantil se mantiveram no mesmo patamar, mais de 4 anos após o início da implementação [3].
  1. A informação compartilhada nos encontros iniciais também apresentou contrastes entre a perspectiva do usuário e a perspectiva dos profissionais da saúde, em cada indicador, em cartazes. Para promover a inclusão, os participantes foram divididos em grupos focais, permitindo que populações mais marginalizadas, como mulheres e jovens, expressassem suas opiniões e discutissem questões específicas de sua realidade.
  2. Foram encontradas também evidências de aumentos no uso de serviços de planejamento familiar e quedas no número de gravidezes.
  3. Análises de heterogeneidade sugerem que a desigualdade de renda — e especialmente a fragmentação étnica — atenuaram significativamente a melhoria os impactos da iniciativa.

Quais as fontes da informação?

  1. Björkman, M., & Svensson, J. (2009a). Power to the People: Evidence from a Randomized Field Experiment on Community-Based Monitoring in Uganda. The Quarterly Journal of Economics, 124(2), 735-769.
  2. Björkman, M., & Svensson, J. (2009b). Online Appendix: Power to the People: Evidence from a Randomized Field Experiment on Community-Based Monitoring in Uganda.
  3. Björkman Nyqvist, M., De Walque, D., & Svensson, J. (2017). Experimental Evidence on the Long-Run Impact of Community-Based Monitoring. American Economic Journal: Applied Economics, 9(1), 33-69.
  4. Björkman, M., & Svensson, J. (2010). When is Community-Based Monitoring Effective? Evidence from a Randomized Experiment in Primary Health in Uganda. Journal of the European Economic Association, 8(2-3), 571-581.