Programa Early Training Project de Apoio ao Desenvolvimento na Primeira Infância no Tennessee

Data de publicação: 29/04/2022

Data da última atualização: 19/10/2022

Qual o objetivo?

Quebrar o vínculo entre a pobreza infantil e o baixo aproveitamento escolar, promovendo o desenvolvimento intelectual, social e físico de crianças em idade pré-escolar em contextos de vulnerabilidade social.

Onde e quando foi implementado?

O Early Training Project (ETP) foi implementado de 1962 a 1964 em Murfreesboro, Tennessee, nos Estados Unidos, no contexto de um estudo experimental de pequena escala (65 crianças) para fins de pilotagem e de avaliação longitudinal das coortes participantes.

Como é o desenho?

O ETP teve por foco crianças negras de 3 ou 4 anos que já frequentavam centros de educação infantil, e que viviam em situação de pobreza e deprivação cultural. Para seleção dos beneficiários, um censo de todas as crianças negras nascidas em 1958 foi conduzido, e o grupo de crianças que seriam parte do estudo foi escolhido pela equipe de pesquisa. A ideia central do ETP era de criar condições melhores para o desenvolvimento de atitudes e habilidades que conduziriam as crianças participantes a um melhor desempenho escolar no futuro. O programa contou com atividades agrupadas em dois componentes fundamentais.

O primeiro componente foi o acesso a um centro de educação infantil durante 10 semanas, nas férias, por 4 horas pela manhã dos dias úteis da semana, por um período de 2 a 3 anos seguidos. Para cada grupo de 5 a 7 crianças havia um professor líder, com especialidade em primeira infância, e para o qual foi dado treinamento adicional nas abordagens a serem usadas no ETP. Dentre essas abordagens, a ideia de que sinais de interesse e de progresso nas atividades diárias deveriam ser seguidas de reforços positivos ocupou um papel central. As atividades ocorriam em vários ambientes: (1) a sala principal, onde as crianças trabalharam principalmente com materiais que auxiliavam na apresentação de conceitos e com livros; (2) uma sala de música onde as crianças cantavam e tocavam instrumentos musicais; (3) uma sala de arte; (4) salas de brinquedos, como blocos de montagem. Os centros forneceram, além disso, transporte grátis diário por ônibus para cada criança, 2 refeições por dia (café da manhã e almoço) e serviços básicos de higiene pessoal para crianças durante o período de permanência.

O segundo componente do programa era o estabelecimento de uma relação próxima entre a família e um profissional em educação infantil que cumpria uma série de papeis.

Durante as férias de verão, ele atuava como ponto focal e de ligação entre os cuidadores e o centro de educação, relatando atividades das crianças e encorajando sua participação e elogios, estimulando visitas aos centros e reforçando os objetivos do programa. Por fim, no mesmo período, este profissional era responsável por marcar consultas anuais da criança no posto de saúde local.

Fora das férias de verão, o mesmo profissional realizava visitas domiciliares semanais de 45 minutos durante a duração do programa. Um dos objetivos centrais dessas visitas era o de transmitir aos pais e cuidadores a ideia de que, na idade em que as crianças-alvo dos programas se encontravam, eles eram os professores mais importantes. Assim, essas visitas serviam como oportunidades para que os pais planejassem mais sistematicamente as atividades que fariam com essas crianças. Como a maior parte dos pais e cuidadores tinham um tempo bastante limitado para dedicar a essas atividades, este planejamento frequentemente envolvia atividades que pudessem ser relacionadas às tarefas cotidianas - por exemplo, o preparo de alimentos - ou a "experimentos" domésticos que pudessem levar a discussões sobre relações de causa e efeito - por exemplo, deixando um pote de água congelar do lado de fora da casa, e depois mostrar como a água passaria ao estado gasoso após o contato com o fogo.

Além disso, estes visitadores eram responsáveis por uma biblioteca circulante, e lançavam mão de interpretação de papeis, para estimular que os pais fizessem o melhor uso possível dos livros, lendo para os seus filhos, discutindo imagens e conceitos, e interpretando, eles mesmos, papéis em passagens específicas das histórias.

Por fim, o profissional responsável pelas visitas domiciliares cumpria também um papel de aconselhamento profissional, tentando informar os pais e/ou cuidadores sobre oportunidades de emprego nas proximidades.

O que aprendemos com o monitoramento e avaliação?

Foram documentadas, em artigo listado na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito do impacto causal do programa Early Training Project:

  • aumento, entre meninas, de 100% de um desvio padrão (14 pontos, ou 15%) em um indicador de quociente de inteligência (QI), construído a partir de informação coletada aos 5 anos de idade [1];
  • redução, entre meninas, de 47% na taxa de repetência em pelo menos um ano, construída a partir de informação coletada aos 17 anos de idade [1];
  • redução, entre meninas, de 58% (ou 29 pontos percentuais) na taxa de crianças que vieram a evadir do sistema escolar no ensino médio, construída a partir de informação coletada aos 18 anos de idade [1];
  • redução, entre meninos, de 17% (ou 10 pontos percentuais) na taxa de crianças que vieram a evadir do sistema escolar no ensino médio, também construída a partir de informação coletada aos 18 anos de idade, embora o efeito encontrado não seja estatisticamente significante [1];
  • não foram encontradas evidências de efeitos, entre meninas, na taxa de ingresso no ensino superior ou técnico, construída com informação coletada aos 21 anos de idade [1];
  • surpreendentemente, o programa parece ter afetado negativamente os meninos na dimensão descrita acima: houve uma redução de 76% na taxa de meninos que ingressaram no ensino superior ou técnico, entre os contemplados [1];
  • não há também evidências de que meninos ou meninas tenham se tornado, quando adultos, mais independentes do sistema de assistência social [1].
De onde vem essa informação?
  1. Anderson, M. L. (2008). Multiple Inference and Gender Differences in the Effects of Early intervention: A reevaluation of the Abecedarian, Perry Preschool, and Early Training Projects. Journal of the American Statistical Association, 103(484), 1481-1495.
  2. Klaus R. & Gray, S. (1967). The Early Training Project for Disadvantaged Children: A Report After Five Years. George Peabody College for Teachers.


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