Implementação do Programa de Educação Integral no Ensino Médio de Pernambuco
Implementação do Programa de Educação Integral no Ensino Médio de Pernambuco
Qual era o objetivo?
Difundir inovações pedagógicas e gerenciais, expandir o tempo de adolescentes na escola, contribuindo para seu preparo para a transição da escola para o mundo do trabalho, e valorizar os profissionais da educação.
Onde e quando?
O Programa de Educação Integral foi criado em 2008 no estado de Pernambuco, Brasil, com adesão de escolas ao modelo ao longo dos anos subsequentes. Os resultados abaixo se referem a estudos observacionaisOs estudos observacionais analisam dados coletados em situações em que os pesquisadores não têm controle sobre a exposição de indivíduos à política ou programa social, permitindo apenas a observação das associações entre variáveis em seus contextos naturais. Nesse tipo de estudo, as diferenças observadas entre os grupos podem ser influenciadas por fatores que limitam a capacidade de estabelecer relações causais diretas entre o programa e os resultados observados. que utilizam dados de alunos de escolas públicas ou municípios do estado, em anos anteriores e posteriores ao início do processo de implementação.
Como era o desenho?
Com foco em escolas públicas, o programa envolveu três componentes principais. O primeiro foi a conversão de escolas que operavam em turnos de meio-período em escolas de turnos integrais.¹ Com objetivo de dar mais possibilidades de escolha a pais e alunos, algumas escolas passaram a oferecer turnos integrais em 3 dias da semana (escolas semi-integrais) e outras passaram a oferecer turnos integrais em 5 dias da semana (escolas integrais).
Com a mudança, em ambos os tipos de escola, o tempo dedicado ao ensino de Língua Portuguesa aumentou em 20% (de 4,2 para 5 horas por semana), o tempo dedicado ao ensino de Matemática aumentou em mais de 50% (de 3,3 para 5 horas por semana) e o tempo dedicado ao ensino de Química, Física e Biologia aumentou, também, em mais de 50% (de 5,3 para 8,1 horas por semana).² Além disso, o programa introduziu novas disciplinas, dedicadas ao ensino de elementos de empreendedorismo, direitos humanos, e à elaboração de um projeto de vida e as escolas integrais integraram à rotina 8,3 horas de atividades complementares, que incluíam educação remedial e oficinas de estudo independente, em grupo.³
O segundo componente do programa envolveu a imposição de regras específicas para gestão do trabalho dos professores e diretores das escolas semi-integrais e integrais, além de aumentos salariais. Em particular, foi exigido que professores de escolas que tivessem implementado o programa tivessem dedicação integral e exclusiva. Por fim, o terceiro e último componente foi de aprimoramentos estruturais nas escolas contempladas, com reformas ou construção de espaços físicos novos — como laboratórios e salas para estudo em grupo.
O que as evidências sugerem?
Foram documentadas, nos artigos listados na seção abaixo, as seguintes evidências a respeito do monitoramento e do impacto causal do Programa de Educação Integral em Pernambuco:
- em 2008, o primeiro ano de implementação, 47 escolas aderiram ao programa, e, em 2014, todos os municípios do estado tinham pelo menos uma escola semi-integral ou integral, que contemplavam 40% dos alunos de 1° ano do Ensino Médio da rede estadual [1];
- evidências qualitativas coletadas em entrevistas, corroboradas por evidências quantitativas, sugerem que o processo de expansão do programa tenha sido baseado, principalmente, na adequação estrutural das escolas — por exemplo, presença de laboratório de Ciências — e em uma meta de que cada município do estado tivesse uma escola semi-integral ou integral [1,4];
- há evidências de que os salários de diretores em escolas semi-integrais e integrais eram, de fato, 37% maiores do que os salários nas escolas que não aderiram ao programa, e de que os diretores em escolas semi-integrais e integrais tinham, com probabilidade maior, sido admitidos por processos competitivos e não por indicação política [2];
- aumento, entre 2008 e 2016, de 19% a 41% (ou de 5,8 a 12,5 pontos percentuaisO efeito de um programa em termos percentuais (%) é diferente do efeito do programa em pontos percentuais! Por exemplo, se uma variável binária teria média de 10% na ausência da iniciativa, um impacto de 5 pontos percentuais representa um aumento de 50% (=5/10).) na taxa de alunos no 1° ano do Ensino Médio que tinham sido transferidos de escolas privadas para escolas públicas em áreas urbanas, o que teve consequências sobre a parcela de alunos matriculados na rede privada e sobre a taxa de fechamento de escolas dessa rede [3];
- para alunos que iniciaram o Ensino Médio entre 2010 e 2014 em escolas públicas integrais ou semi-integrais, houve aumento de 22% de um desvio-padrãoO desvio-padrão mede a dispersão de valores de uma variável — valores mais altos indicam maior ocorrência de valores longe da média e valores mais baixos refletem maior concentração de valores próximos à média. Para a distribuição normal, ou para distribuições com um grau alto de simetria em torno da média, um aumento de 10% de um desvio-padrão equivale a um efeito de 4 percentis a partir do percentil 50: caso interpretemos o conjunto de pessoas na amostra como uma fila de 100 pessoas, um aumento de 10% de um desvio-padrão equivaleria a passar da posição 50 para a posição 54. Um aumento maior, de 30% de um desvio padrão equivaleria a passar da posição 50 para a posição 62. nas notas de Matemática e aumento de 19% de um desvio-padrão nas notas de Língua Portuguesa em exames padronizados estaduais aplicados no 3° ano [1];
- os efeitos descritos imediatamente acima foram maiores para garotos do que para garotas, e para alunos que iniciaram o Ensino Médio na idade correta (com 14 ou 15 anos), mas não foram detectadas diferenças estatisticamente significantesChamam-se de estatisticamente significantes as estimativas de impacto que são distinguíveis do valor zero, após incorporada à análise as incertezas associadas à generalização para outras amostras de indivíduos. nos efeitos para alunos de grupos socioeconômicos mais vulneráveis [1];
- aumento, entre 2009 e 2018, de 19% a 31% de um desvio-padrão nas notas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) dos alunos de escolas que tinham se tornado integrais e de 9% a 15% de um desvio padrão em escolas que tinham se tornado semi-integrais [4];
- os efeitos descritos acima, tanto sobre notas nos exames padronizados estaduais quanto sobre notas no ENEM, foram maiores para alunos matriculados em escolas integrais, quando comparados aos matriculados em escolas semi-integrais, sugerindo haver relevância no tempo adicional em escolas integrais dedicado a atividades de educação remedial e estudo em grupo [1];
- há evidência de que o programa tenha alterado a composição dos alunos que se inscreveram no ENEM, em direção a adolescentes de famílias de renda mais alta e em que a mãe tinha maior nível de escolaridade, o que é consistente com o resultado sobre migração de alunos de escolas particulares para escolas públicas integrais e semi-integrais apresentado acima [4];
- há, por fim, evidência de que, entre 2008 e 2018, a implementação de escolas de tempo integral em um município tenha reduzido a taxa de homicídios de adolescentes homens de 15 a 19 anos em 32%, no horizonte de 3 anos após a instauração, e, em média, em quase 50%, no horizonte de 1 a 8 anos após a instauração [5].
- O Ginásio Pernambucano, a segunda escola pública mais antiga do Brasil, tornou-se, em 2004, o Centro de Ensino Experimental Ginásio Pernambucano (CEEGP) e recebeu a primeira turma de estudantes em tempo integral do estado, por meio de uma parceria público-privada com o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). O ICE coordenou a seleção de gestores e professores, além de orientar a expansão de escolas similares. O Ginásio Pernambucano serviu como modelo para outras escolas de tempo integral no estado.
- As mudanças no tempo dedicado a cada grupo de disciplinas não foram acompanhadas de mudanças nos conteúdos curriculares estipulados pela autoridade educacional do estado.
- No ano em que as escolas aderiram ao programa, apenas os alunos do 1° ano do Ensino Médio foram contemplados pelas mudanças de carga horária. No segundo ano, a mesma coorte iniciava o 2° ano do Ensino Médio, de modo que a exposição completa de uma coorte ao ciclo integral nessa etapa da educação básica tomava 3 anos. As escolas que implementaram o ensino em tempo integral e continham classes de Ensino Fundamental encerraram suas matrículas para esses anos. Assim, a implementação implicou também uma especialização das escolas nos anos do Ensino Médio.
Quais as fontes da informação?
- Rosa, L., Bettinger, E., Carnoy, M., & Dantas, P. (2022a). The Effects of Public High School Subsidies on Student Test Scores: The Case of a Full-day High School in Pernambuco, Brazil. Economics of Education Review, 87, 102201.
- Rosa, L., Bettinger, E., Carnoy, M., & Dantas, P. (2022b). The Effects of Public High School Subsidies on Student Test Scores: The Case of a Full-day High School in Pernambuco, Brazil. Supplementary Online Material.
- Rosa, L. (2019). The Unintended Consequences of Public School Subsidies on Educational Markets. Unpublished Manuscript.
- Araujo, D., Bayma, G., Melo, C., Mendonca, M., & Sampaio, L. (2020). Do Extended School Day Programs Affect Performance in College Admission Tests? Brazilian Review of Econometrics, 40(2), 232-266.
- Rosa, L., Bruce, R., & Sarellas, N. (2022). Effects of School Day Time on Homicides: The Case of the Full-day High School Program in Pernambuco, Brazil. IEPS Working Paper.
- Cruz, T., Cuconato, G., & Sá, E. (2018). Escola de tempo integral. D3e-Dados para um Debate Democrático em Educação, Relatório de Política Educacional.
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