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Números que iluminam

Sistema de indicadores de mobilidade intergeracional apresenta dados da correlação do nível de instrução entre pais e filhos, além de temas como acesso à tecnologia, condições de moradia e serviço de saneamento, através de 450 quadros de apoio para análises e estudos
Publicado em 18/02/2021
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Ao longo de décadas os cientistas sociais vêm desenvolvendo maneiras cada vez mais eficazes de entender as características socioeconômicas das pessoas e suas correlações. O edifício de todo o conhecimento desta área da ciência se sustenta sobre os pilares da estatística e da pesquisa de campo. Avanços tecnológicos vêm possibilitando a criação de bancos de dados cada vez mais robustos para facilitar a vida dos estudiosos – e para o benefício dos pesquisados. São ferramentas que servem a todo tipo de investigação. No portal do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, essa conjunção de ciência e tecnologia permite a análise, através de centenas de variáveis, do comportamento da mobilidade educacional entre gerações para a população de 25 a 65 anos no Brasil.

O hotsite do Instituto com indicadores de mobilidade intergeracional parte de informações sobre o nível de escolaridade de pais, mães, ou quem tenha grau mais avançado de estudos entre os responsáveis, para relacionar estes dados com o nível de escolaridade e trinta indicadores de resultados socioeconômicos dos filhos. São abordados temas diversos, a exemplo de acesso à tecnologia, condições de moradia, renda domiciliar e individual, serviços de saneamento e mortalidade. A ferramenta permite recortes por época de nascimento (de 1949 a 1989), sexo, cor/raça, região do país ou área de residência (rural ou urbana). Dos cruzamentos possíveis resultam cerca de 450 quadros para apoio de análises.

A mobilidade intergeracional educacional expressa a possibilidade de filhos alcançarem níveis de escolaridade mais ou menos elevados do que os de seus pais. Essa variação indica o grau de influência que o nível de escolaridade dos pais exerce sobre a geração seguinte. “O fato de uma pessoa ter renda dez vezes menor do que a de outra está tremendamente associado ao fato de um pai ter ensino médio incompleto ou superior completo. Outros indicadores, como viver em moradia com saneamento inadequado ou ter ou não acesso à banda larga, também apresentam enorme associação com a escolaridade dos pais e reforçam ainda mais este cenário”, explica Sergio Guimarães, economista e diretor de pesquisas do IMDS.

Indicadores, no campo da estatística, podem ser medidas usadas para quantificar um conceito social abstrato. Exemplo: um dos quadros do site do IMDS aponta que, a cada 100 pessoas com pai que concluiu o ensino superior, 94 possuem microcomputador, tablet ou ambos. Entre os filhos de pais sem instrução, a proporção dos sem microcomputador nem tablet salta para 59%. No site do IMDS, o indicador “posse de microcomputador ou tablet no domicílio”, associado ao tema “bens duráveis e serviços”, dá contornos concretos a um dos abismos da mobilidade intergeracional.

A navegação pelo hotsite leva a inúmeras descobertas. A observação de que, a cada 100 pessoas com pais que concluíram o ensino superior ou mais, 70 atingiram o mesmo nível, permite concluir que os filhos de pais com superior completo apresentam maiores chances de igualá-los na educação do que seus contemporâneos nos demais grupos – os descendentes de pais sem instrução, com fundamental e ensino médio incompletos ou completos e com superior incompleto. Outra correlação, curiosa, mas não menos reveladora, mostra que mais da metade dos filhos de pais sem instrução não tem máquina de lavar roupa em casa, enquanto entre os filhos de pais com superior completo ou mais, a turma que lava o enxoval no tanque restringe-se a seis em cada 100.

Os dados que alimentam gráficos e tabelas no portal do IMDS vêm do suplemento de Mobilidade Sócio-Ocupacional da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, a primeira pesquisa do gênero realizada pelo IBGE desde 1996. Os entrevistados referem-se ao mais alto nível educacional que pai, mãe ou outro responsável tinham quando moravam juntos e eles tinham 15 anos. Daí derivam todas as planilhas, fontes preciosas para o trabalho de gestores públicos e pesquisadores, do ensino médio ao doutorado, em busca de insumos para basear suas investigações de forma mais sólida.

“O desafio é olhar as correlações entre as informações. Qual é a chance de ter acesso à Internet, via banda larga, dos adultos com pais sem instrução formal e entre os adultos que tinham pais com ensino superior?”, pergunta o pesquisador e estatístico Samuel Franco, à frente da equipe que montou o hotsite com indicadores de mobilidade do Instituto. As respostas estão tabuladas no próprio site: 29,6% e 89,4%, respectivamente. Franco também conta que, com frequência, o sistema é usado como um jogo. “Para muitas pessoas a quem apresentei o banco de dados, o primeiro impulso foi procurar as próprias referências de informação. Elas começam a pensar em seus próprios casos de vida”, diz. Não deixa de ser um bom começo. Acesse.