Foto: divulgação do evento
Diretor-presidente do Imds debate resiliência climática e vulnerabilidade em seminário da série COP30 Amazônia
Os jornais “O Globo” e “Valor Econômico” e a rádio “CBN” realizaram o seminário “Resiliência climática: o desafio da adaptação às mudanças do clima”, evento que compõe o projeto de encontros “COP30 Amazônia”. O diretor-presidente do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds), Paulo Tafner, esteve presente como convidado do painel “Como aumentar a resiliência dos mais vulneráveis?”, mediado pela jornalista Ana Lúcia Azevedo. Além do economista, a mesa teve a participação da coordenadora do Laboratório de Geografia, Ambiente e Saúde da Universidade de Brasília, Helen Gurgel, e da sócia da área de Energia e Sustentabilidade do Rolim Goulart Cardoso Advogados, Maria João Rolim.
Durante o debate, Tafner abordou como eventos climáticos extremos podem impactar o cotidiano das pessoas e como esses efeitos se relacionam com as políticas públicas já existentes no Brasil. “Procurar investigar ações de políticas públicas associadas a eventos climáticos passou a ser uma prioridade para nós”, comentou o diretor-presidente do Imds.
O tema foi analisado no artigo “Política Social e Resiliência: Uma análise geoespacial do impacto das mudanças climáticas nas decisões de migração entre produtores agrícolas vulneráveis”, citado por Paulo Tafner ao longo do painel. O estudo em parceria com os pesquisadores Vinicius Diniz Schuabb (da Universidade Bocconi, Itália) e Valdemar Neto (da brasileira FGV) avalia como as políticas sociais podem afetar as estratégias de resiliência de famílias produtoras agropecuárias afetadas pelas mudanças climáticas no país. Foi investigado a interação entre choques de renda causados por secas extremas e os benefícios do Programa Bolsa Família para compreender se esses fatores influenciam as decisões de migração de indivíduos altamente vulneráveis.
De acordo com os resultados, migrações de curta distância, dentro dos municípios de origem, ocorrem cinco vezes mais do que as de longa distância entre municípios. Os benefícios sociais podem tanto aumentar quanto reduzir a probabilidade de migração individual, a depender do nível de exposição às secas. Indivíduos expostos a 1% das secas mais severas tendem, em média, a utilizar os benefícios para subsidiar a migração, enquanto aqueles expostos às secas 10% mais severas utilizam os benefícios em suas estratégias de resiliência, reduzindo o fluxo migratório.
Com isso, fica evidente que políticas de assistência social têm papel significativo em contribuir para a resiliência e as decisões de enfrentamento das populações rurais diante dos desafios impostos pelos eventos climáticos extremos. O artigo foi a primeira parte do projeto “Programas de Transferência de Renda e Impactos Socioeconômicos de Desastres Naturais”. Em breve, o instituto publicará uma segunda parte do trabalho, com foco nas chuvas excessivas e enchentes, que, diferente do primeiro fenômeno, tem maior concentração no meio urbano.
Ao discutir os programas de incentivo associados à migração, Tafner apontou que há muitas experiências documentadas, como, por exemplo, o Programa Moving to Opportunity. A iniciativa, implementada entre os anos de 1994 e 1998 nos Estados Unidos, tinha como objetivo oferecer a famílias em situação de pobreza a oportunidade de mudarem seu local de moradia. No entanto, conforme explicou o economista, os resultados só foram positivos quando o programa passou por um redesenho e disponibilizou assessoria técnica de profissionais. O redesenho para evitar que essas famílias se mudassem para um local igual ou pior aquele que já moravam foi realizado por meio de uma cláusula de barreira que estabelecia que o beneficiário não poderia se mudar para um local com um IDH pior do que o seu. “A política pública tem que ter essa maleabilidade de dar os incentivos e os desenhos corretos”, ressaltou o pesquisador.
A mudança climática impacta a vida das pessoas, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade. Por isso, é fundamental compreender de que forma esses impactos ocorrem e como podemos promover ações coletivas e políticas públicas para mitigá-los. Pensando nesse compromisso, o Imds seguirá produzindo e divulgando estudos sobre a relação entre políticas públicas e eventos climáticos extremos, contribuindo para o debate e a busca de soluções baseadas em evidências.