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Da esquerda para direita: Paulo Tafner, Humberto Moreira, Vinicius Peçanha e José Heleno Faro - Crédito: Divulgação/SBE

Imds participa do 46o Encontro da Sociedade Brasileira de Econometria (EBE)

Imds promove sessão especial sobre alfabetização, e nova edição de prêmio em parceria com a SBE que visa estimular discussão sobre mobilidade e desenvolvimento social
Publicado em 20/12/2024
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Os vencedores do Prêmio Imds-SBE 2024 foram, em primeiro lugar, o artigo “The Effects of Urban Violence on Primary Health Care Services: Evidence from Poor Neighborhoods in Rio de Janeiro”, de Vinicius Peçanha, Julia Guerra, Rudi Rocha, Christopher Millett e Thomas Hone, e, em segundo lugar, “Does University Expansion Promote Entrepreneurship?”, de Bruna Alvarez, Bruna de Abreu Martins (FGV EESP) e Daniel Da Mata. Os prêmios foram entregues pelo diretor-presidente do Imds, Paulo Tafner, juntamente com os Professores Humberto Moreira e José Heleno Faro, da SBE, durante a cerimônia de premiação realizada no dia 12 de dezembro, dentro da programação do 46º EBE.

Os trabalhos deveriam abordar um dos seguintes eixos temáticos para concorrer ao prêmio: capacitação cognitiva e socioemocional de crianças, adolescentes e jovens; alfabetização; educação básica; atenção à saúde de crianças, adolescentes e jovens; apoio à gestação; capacitação e inclusão produtiva de jovens; prevenção à violência juvenil; impactos na capacidade de acumulação de capital humano de crianças e jovens decorrentes de fenômenos ambientais; e avaliação de impacto de políticas de ação afirmativa.

O trabalho “The Effects of Urban Violence on Primary Health Care Services: Evidence from Poor Neighborhoods in Rio de Janeiro” aborda os impactos da violência urbana no uso de serviços da Atenção Primária à Saúde entre 2009 e 2016, com foco na cidade do Rio de Janeiro (RJ). A pesquisa destaca como episódios de violência, especialmente tiroteios decorrentes de conflitos entre facções criminosas e de operações policiais, afetam de forma desproporcional as áreas mais pobres. Utilizando diversas bases de dados com alta precisão espacial, os autores identificam os efeitos causais da violência sobre o sistema de saúde. As estimativas indicam que operações policiais resultam em uma redução de 12,7% nos procedimentos de saúde primária, com maior impacto nas visitas domiciliares. Conflitos entre grupos armados, por sua vez, levam a uma queda de 7,1% no total de procedimentos. Esses resultados evidenciam que a violência urbana não apenas compromete o acesso a serviços de saúde, mas também agrava desigualdades no uso desses serviços.

Já o artigo “Does University Expansion Promote Entrepreneurship?” analisa os efeitos da expansão de universidades públicas no Brasil entre 1998 e 2019, e destaca um aumento de 21% no número de empresas por 1.000 habitantes em regiões tradicionalmente menos atrativas para negócios. Esse crescimento foi impulsionado principalmente por micro e pequenas empresas concentradas nos setores de varejo e serviços. Dois fatores explicam esses resultados: o aumento na demanda local gerado pela chegada de estudantes e trabalhadores, e o impacto do capital humano mais qualificado, com um aumento médio de 75% no número de trabalhadores com ensino superior e um avanço de 112% no número de patentes registradas. Os autores também exploram cenários alternativos de expansão universitária, sugerindo alocações mais estratégicas para maximizar o impacto no empreendedorismo. Os achados ressaltam a relevância de políticas públicas baseadas em evidências para promover inovação, desenvolvimento regional e redução de desigualdades econômicas.

Da esquerda para direita: Humberto Moreira, Bruna de Abreu Martins, Paulo Tafner, e José Heleno Faro – Crédito: Divulgação/SBE

Por meio do incentivo à produção científica, o Prêmio Imds-SBE vem buscando promover a transferência de conhecimento e tecnologias sociais das instituições de ensino e pesquisa para gestores públicos e para a sociedade civil organizada. A proposta é reunir esforços da academia para o conhecimento de questões pertinentes às temáticas abordadas e transformar conhecimento em ação.

Sessão Especial Imds – “Infância e os desafios da alfabetização”

A Sessão Especial Imds “Infância e os desafios da alfabetização” contou com a participação de Gisele Alves, gerente executiva do eduLab21 / Instituto Ayrton Senna, e do pesquisador do Imds Flávio Riva, e foi mediada pelo diretor-presidente do Imds Paulo Tafner. Também convidado, Renan Sargiani, presidente do Instituto Edube, sofreu um imprevisto e não pôde se apresentar.

Gisele Alves apresentou os caminhos da leitura no cérebro, etapas da construção do conhecimento de leitura e escrita, e os fatores que influenciam o aprendizado, como motivação, ambiente escolar e instrução pedagógica.

Baseando-se em estudos de autores como Dehaene e Scarborough, ela destacou a interação entre habilidades de reconhecimento de palavras e compreensão da linguagem, elementos essenciais para uma leitura eficiente. Também foram abordadas as diferenças entre sistemas de escrita e o impacto da correspondência grafema-fonema no desempenho dos estudantes. O papel da instrução docente em moldar os processos cerebrais foi enfatizado como um fator-chave para promover a alfabetização efetiva em crianças e adultos.

Gisele Alves durante Sessão Especial Imds – Crédito: Divulgação/SBE

Flávio Riva trouxe as perguntas “Como são classificadas as habilidades constitutivas de uma boa alfabetização e de uma boa apropriação do conjunto de habilidades e de escrita?”, “Qual o suporte empírico da hipótese de que uma alfabetização melhor gera níveis maiores de aprendizado no futuro?”, e “Como construir políticas públicas capazes de contribuir para que a formação dessas habilidades ocorra da forma mais (custo-)efetiva possível?”, e apresentou dados sobre os níveis de alfabetização e as habilidades de leitura e escrita das crianças brasileiras, destacando que, em 2021, apenas 56% das crianças concluíram o 2º ano alfabetizadas, e apenas 4 em cada 10 estudantes do 4º ano conseguiam interpretar textos e articular ideias. A pandemia agravou esses déficits, especialmente para a coorte de 2021, indicando desafios adicionais para a alfabetização da geração que passou por esse período crítico.

Em seguida, Riva analisou maneiras de medir e classificar as habilidades essenciais para uma boa alfabetização e a relação entre níveis de alfabetização no início da educação e o aprendizado subsequente. Com base em dados do SPAECE-Alfa e do SAEB, apontou que melhorias na alfabetização no 2º ano geram impactos positivos substanciais no desempenho de Língua Portuguesa no 5º ano, de forma que investimentos em políticas públicas custo-efetivas, com foco na formação dessas habilidades nos anos iniciais, seriam fundamentais para mitigar desigualdades e melhorar trajetórias educacionais futuras.

Flávio Riva durante Sessão Especial Imds – Crédito: Divulgação/SBE