← voltar para em pauta

Imds tem artigo publicado na revista “World Development Perspectives”

Edição de setembro do periódico multidisciplinar traz estudo que analisa os resultados das primeiras gerações de beneficiários do Bolsa Família
Publicado em 05/08/2024
Compartilhe:

A revista “World Development Perspectives”, periódico multidisciplinar de desenvolvimento internacional, traz em sua edição de setembro, já disponível, o artigo “Social mobility and CCT programs: The Bolsa Família program in Brazil”, assinado por autores do Imds e pesquisadores parceiros. O texto relata as investigações sobre os resultados de longo prazo das primeiras gerações de beneficiários do Programa Bolsa Família – crianças entre 7 e 16 anos que eram dependentes do programa em 2005 e que foram acompanhadas por mais de uma década, até 2019.

Paulo Tafner, diretor-presidente do instituto, e Sergio Guimarães, diretor de pesquisa, tiveram como coautores Valdemar Pinho Neto, Giovanna Ribeiro, Vinicius Schuabb, Samuel Franco e Eloah Fassarella.

Essa publicação é consistente com a visão do instituto de ser a principal plataforma de estudos sobre mobilidade social do Brasil e fonte relevante e confiável de conhecimento para os gestores públicos na área de mobilidade e desenvolvimento social.

Leia a seguir 5 perguntas respondidas pelo grupo, que resumem a relevância estratégica desse trabalho.

1. Vocês investigaram os resultados de longo prazo relacionados à mobilidade social e seus determinantes para famílias brasileiras de baixa renda beneficiadas pelo Programa Bolsa Família (PBF). Quais foram as principais conclusões?

Nossa pesquisa observou que, mais de uma década após serem beneficiadas com o Bolsa Família, 64% das crianças e jovens, então na fase adulta, não constavam mais como beneficiárias de programas sociais do governo federal e 45% acessaram o mercado formal de trabalho ao menos uma vez. Pudemos observar, no entanto, significativas diferenças entre homens e mulheres, brancos e negros, a depender da idade e região de residência. De fato, observamos que fatores locais, como boas infraestruturas de saúde e educação do município, além do dinamismo econômico local, estão diretamente relacionados com a capacidade de mobilidade dos indivíduos.

2. O foco foi colocado nas crianças com idade entre 7 e 16 anos em 2005, e que foram acompanhadas por mais de uma década, até 2019. O que mais chamou a atenção dos pesquisadores nesse grupo

Esse grupo corresponde à primeira geração de crianças e jovens beneficiadas por programas sociais em larga escala no Brasil, para a qual podemos observar indicadores na vida adulta, como acesso ao mercado de trabalho. Há uma tradicional literatura que sugere que programas sociais, aos moldes do Bolsa Família, podem gerar mudanças sociais no longo-prazo, conforme observamos. Essa literatura, nacional e internacional, aponta melhorias em saúde, educação e renda dos beneficiários ao longo de suas vidas.

3. Vocês analisaram principalmente dois indicadores de mobilidade social: a emancipação futura dos programas sociais do governo federal e o acesso ao mercado de trabalho formal. Que retrato salta aos olhos do mergulho nesses dados?

A principal descoberta, que nos surpreendeu pela expressiva magnitude, foi observar que mais da metade desse grupo de jovens e crianças não dependia mais de programas sociais quando na vida adulta e que isso estava relacionado a uma inserção no mercado formal de trabalho. Esse fato revela uma nova realidade para essa geração de brasileiros, nascida na pobreza e na extrema pobreza, mas que conseguiram superá-las na vida adulta.

4. Vocês mencionam que encontraram uma heterogeneidade territorial significativa associada a diferenças em melhores infraestruturas de saúde e educação e à atividade econômica local. O que mais chamou a atenção nesses aspectos?

O grande diferencial de estudos como o nosso é ser capaz de mensurar, mesmo que com ressalvas, as disparidades entre regiões e municípios brasileiros. Observamos que uma pessoa residente em municípios das regiões Norte e Nordeste possui a metade da probabilidade de mobilidade social quando comparada com residentes das regiões Sul e Sudeste. Ainda podemos relacionar essa maior mobilidade a melhores estruturas de saúde e educação, e maior dinamismo econômico local, no Centro-Sul do país.

5. O que consideraram como principal desafio na elaboração desse material? Quais foram as maiores dificuldades em obter, coletar e tratar os dados?

Esse estudo demandou o esforço de associarmos diversos dados administrativos do governo federal, para milhões de pessoas e famílias, ao longo de muitos anos. Tivemos a colaboração, entre análises e debates, de uma equipe interessada sobre o tema, em como observar indicadores relacionados à mobilidade social de forma mais precisa, composta por pesquisadores internos ao instituto, acadêmicos e servidores do governo. Apresentações preliminares dos resultados foram constantemente realizadas internamente e em grupos especializados, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e o próprio Ministério do Desenvolvimento Social – MDS.