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Imds investiga fenômeno da gravidez na adolescência em novo estudo

Nota Técnica traz revisão de literatura sobre o tema e discute efeitos sobre escolaridade e mercado de trabalho
Publicado em 24/09/2025
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O Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds) publicou novo estudo que investiga a gravidez na adolescência. A nota técnica “Custos e Intervenções Acerca da Gravidez na Adolescência: Uma Breve Revisão da Literatura”, produzida pelo pesquisador Pedro Henrique Chaves Maia, foi desenvolvida a partir da revisão de 40 estudos da literatura e oferece ferramentas valiosas para identificar custos diretos e indiretos, bem como avaliar a efetividade de políticas públicas voltadas à mitigação do fenômeno.

O trabalho propõe uma análise econômica sobre o tema, que frequentemente é abordado sob perspectivas médica, psicológica ou educacional. Conforme explica Paulo Tafner, diretor-presidente do Imds, essa abordagem “se dedica a analisar e quantificar o impacto econômico, tanto na esfera privada quanto na esfera pública decorrente da gravidez na adolescência”.

A interferência na educação das gestantes é o primeiro reflexo notável. A gravidez nessa etapa da vida reduz os anos de escolaridade, além de afetar negativamente a probabilidade de término do ensino médio e o desempenho escolar das mães. Já a quantificação do impacto sobre os pais do sexo masculino segue como algo pouco explorado na literatura. Um dos raros exemplos de respostas foi encontrado no trabalho “Early maternity and paternity: Effects on educational trajectories”, que conseguiu identificar os pais adolescentes de 93,5% das crianças em seu estudo, no Chile. Os resultados indicam que o efeito para os homens é menor que o das mulheres, ainda que ambos sejam impactados de maneira negativa e contínua ao longo do tempo. Com isso, a gestação nessa faixa etária pode atuar no aumento das desigualdades de gênero.

Essas jovens também enfrentam dificuldades no mercado de trabalho, que se manifestam, na maioria das vezes, nas diferenças na taxa de participação e no nível de salários. Apesar da literatura ter como foco os impactos da gravidez na adolescência sobre a mãe, a nota técnica traz para a discussão os efeitos que podem ser causados no futuro filho e no ambiente social dos pais adolescentes afetados.

De acordo com os achados da revisão de literatura, uma amiga que acompanhou uma gravidez na adolescência tem a probabilidade de engravidar jovem diminuída em seis pontos percentuais. Isso ocorre porque, ao ver as dificuldades de ser uma mãe adolescente, as amigas buscam medidas preventivas. No entanto, as externalidades – processo de ser impactado indiretamente por uma decisão alheia – nem sempre são benéficas. Ter uma irmã que se torna mãe adolescente pode diminuir o desempenho acadêmico e aumentar a probabilidade de evasão escolar do irmão não envolvido na gravidez, por exemplo. Isso acontece pois os pais tendem a concentrar sua atenção tanto na filha gestante quanto no neto.

Políticas Públicas e Estratégias de Mitigação

Os custos de uma gravidez na adolescência são consideráveis e, além dos efeitos mencionados anteriormente, o fenômeno impacta também os gastos públicos, uma vez que mães adolescentes têm uma maior necessidade de assistencialismo governamental. O estudo do Imds apresenta o que a literatura entende como os elementos componentes de políticas bem-sucedidas ou não na mitigação da gravidez na adolescência, com foco no contexto dos Estados Unidos.

A informação é um dos pilares para o enfrentamento do fenômeno. Diversas campanhas de conscientização nas escolas acerca dos custos da gravidez na adolescência já foram idealizadas e realizadas. Porém, a efetividade delas como estratégia para mitigar o problema é incerta. A ineficiência dessas campanhas informacionais tradicionais pode ser explicada pela maneira como a comunicação é feita com o público-alvo.

Para o pesquisador Pedro Maia, a comunicação sobre o tema melhorou ao longo do tempo, com uma adequação maior para atingir adolescentes e pré-adolescentes. Porém, as campanhas de conscientização ainda encontram dificuldade em engajar esse público: “Isso é algo almejado, mas ainda falha”. O desafio está em conciliar uma comunicação responsável com uma linguagem dinâmica, fator característico dessa faixa etária.

Um exemplo de uma “campanha de conscientização despretensiosa” é o programa televisivo “16 and Pregnant”, um reality show de sucesso que foi exibido entre os anos de 2009 e 2013 pela MTV – emissora que tem adolescentes como público-alvo. Os autores Melissa S. Kearney e Phillip B. Levine exploram como o programa atuou na prevenção da gravidez precoce. De acordo com o artigo “Media Influences on Social Outcomes: The Impact of MTV’s 16 and Pregnant on Teen Childbearing. American” a exibição do programa de TV teve um impacto expressivo, e explicaria 24% da queda da gravidez juvenil durante o período de análise.

Segundo o estudo, esse impacto é resultado da maneira realista que o programa exibia os custos pessoais e sociais da maternidade precoce, de modo a sensibilizar jovens que antes não tinham plena noção de suas consequências e que, a partir do programa, passaram a buscar informações a respeito de métodos preventivos. Maia compara a semelhança da experiência do programa com o efeito de quando uma amiga acompanha uma gravidez na adolescência. “O mecanismo é o mesmo. Essa questão gera empatia, sensibiliza a pessoa e mostra o custo daquilo na prática”, comenta. A experiência do reality indica uma lição para a construção de políticas públicas: a comunicação eficaz com adolescentes deve, além de oferecer o conhecimento técnico sobre métodos contraceptivos, despertar neles a vontade individual de se informar acerca do assunto.

Recursos mais imediatos também são considerados na mitigação deste problema. A ampliação do acesso a contraceptivos, em especial a “pílula do dia seguinte”, pode reduzir de maneira significativa a gravidez na adolescência, com efeitos positivos em relação às trajetórias educacionais e profissionais das jovens. No entanto, os impactos desta medida não são unânimes na literatura. Autores como Sourafel Girma e David Paton apontam que, além de uma possível ineficácia, esses recursos têm impacto no aumento de doenças sexualmente transmissíveis.

Além dos anticoncepcionais, o acesso a serviços de saúde mais amplos e a programas de planejamento familiar e aconselhamento também demonstram relevância. As evidências mostram que essas iniciativas não apenas reduzem a chance de gravidez precoce, mas também trazem efeitos duradouros, como menor número de filhos ao longo da vida e melhores condições socioeconômicas para a geração seguinte.

Estudos indicam, também, que o aumento da escolarização da mãe reduz a probabilidade de uma gravidez prematura, mesmo que seja por meio da obrigatoriedade da presença em sala de aula. Com isso, é possível que políticas de incentivo à educação atuem na redução da incidência de gravidez na adolescência. O Programa Bolsa Família exemplifica isso, visto que o impacto da política foi estimado em três pontos percentuais – suficiente para reduzir a diferença entre jovens pobres e não pobres. No entanto, segundo especialistas, benefícios não vinculados ao desempenho escolar podem ter o efeito contrário. Nos Estados Unidos, por exemplo, há evidências de que benefícios mais generosos levam a maiores taxas de gravidez na adolescência. Ou seja, o formato e o valor do benefício são determinantes para a sua eficácia.

O Imds mantém seu compromisso em produzir e divulgar conhecimento qualificado sobre programas e políticas públicas com potencial para gerar impactos positivos na mobilidade social no Brasil. Ao investigar temas como a gravidez na adolescência, a partir de uma perspectiva econômica, o Instituto contribui para o aprimoramento do debate público e para a formulação de estratégias mais eficazes que ampliem as oportunidades de ascensão social.

Imds | Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social
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