Crianças pagarão o maior preço pela pandemia no Brasil

Crianças pagarão o maior preço pela pandemia no Brasil

Impacto na renda de futuras gerações pode chegar a 9% do PIB; essa é uma das conclusões do painel “Uma Pandemia de Desigualdade”, promovido pelo BrazilLab da Princeton University em parceria com o Imds

As crianças brasileiras pagarão o maior preço pela pandemia no País e irão compor futuras gerações que poderão ter uma defasagem de renda com valor presente equivalente a até 9% do PIB, como resultado da desigualdade no acesso à tecnologia e dos consequentes impactos negativos em sua educação. A projeção foi apresentada pelo renomado economista e pesquisador Ricardo Paes de Barros, professor do Insper e membro do conselho consultivo do Imds – Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social. Paes de Barros participou do painel “Uma Pandemia de Desigualdade”, promovido pelo BrazilLab da Princeton University em parceria com o Imds, ao lado do professor Angus Deaton, prêmio Nobel de Economia em 2015 e também professor em Princeton (veja o evento completo aqui). O painel foi moderado pelo professor Thomas Fujiwara, diretor associado do BrazilLab.


Paes de Barros, ou PB, como é costumeiramente conhecido e que assina o estudo apresentado com a economista Laura Muller Machado, também do Insper, afirma que o mais forte legado da pandemia recairá essencialmente sobre as novas gerações, as crianças de hoje. “Será uma nova desigualdade”, afirma, explicando que, impactados pelo acesso desigual à educação, sobretudo em função do baixo acesso à tecnologia, esses cidadãos terão menor renda no futuro, o que contribuirá para ampliar ainda mais a desigualdade. Ele acrescenta que a geração atual deveria tentar pagar esse preço, e não deixar para o futuro.


Em sua apresentação (baixe os slides aqui), PB também explica como a pandemia da Covid-19 afeta no momento atual as faixas etárias mais velhas, em todo mundo, mas que, no Brasil, há aspectos peculiares e que chamam muito a atenção. “Para cada dólar gasto com crianças, 6 dólares são destinados aos mais velhos”, acrescentando que isso não tem paralelo em nenhum outro país.


PB aponta dois grandes e desafiadores impactos da pandemia na desigualdade: primeiro, uns perderam o emprego, outros não; segundo, quem perdeu, com maior probabilidade pertence a setores que pagam salários médios menores. Ele também discorreu sobre a queda da renda total, que foi de 8%, ou 3% do PIB, aliviada pelos auxílios emergenciais de magnitude semelhante. “Mas quem vai financiar isto? Déficit público”, explicou. “E quem pagará essa conta? As crianças de hoje, principalmente quando ingressarem no mercado de trabalho”, acrescentou. PB estima que essa defasagem educacional tem um potencial de impactar o valor presente da renda total em 9% do PIB, se nada for feito no presente como compensação.


O professor Angus Deaton saudou a iniciativa de BrazilLab e Imds, ao unir as perspectivas de EUA e Brasil. “São dois dos mais desiguais países do mundo, a ambos sofrendo muito com a Covid-19”, disse. 


Deaton lembrou que recessões, em geral, afetam mais os homens, mas que nesta pandemia isso se inverteu. “Está pior para as mulheres”, disse, também apontando as crianças em idade escolar como severamente prejudicadas. Mas lembrou das “robustas transferências de recursos dos governos”, e que nos EUA os indicadores parecem convergir para um alívio na desigualdade. “Mas esses auxílios têm data de validade”, acrescentou. 


Deaton também discorreu sobre os impactos na desigualdade oriundos das desvantagens educacionais, comparando, por exemplo, a expectativa de vida entre os que têm ou não tem um diploma de curso superior nos EUA. Ele também esmiuçou esses impactos entre grupos étnicos e destacou as diferenças entre ricos e pobres na pandemia.