| Olá, *|NOME|* O Imds tem direcionado um olhar especial para as primeiras gerações de beneficiários dependentes do Programa Bolsa Família, como forma de mensurar possível mobilidade social na base da pirâmide social e a dependência de longo prazo de Programa. Já falamos deste projeto em outra carta. Estudamos a trajetória de crianças e jovens entre 7 e 16 anos em 2005, que à época eram beneficiários dependentes do programa e os acompanhamos até 2019. Descobrimos que a frequência média com que uma criança beneficiária de 2005, se tornou um adulto pertencente a uma família beneficiária do programa em 2019 foi de 20,4%. As evidências sugerem que o local de residência influencia fortemente a probabilidade de permanecer na pobreza por mais de uma geração. Enquanto a menor frequência de permanência encontrada foi em Santa Catarina (apenas 6,9% das crianças dependentes em 2005 eram adultos beneficiários em 2019), essa proporção chegou a 30,1% no Piauí. Identificamos também que a propensão à dependência intergeracional de programas de transferência está associada à escolaridade dos responsáveis beneficiários em 2005: no Piauí, por exemplo, 35,7% das crianças cujos pais saíram da escola antes de completarem o Fundamental 1, se tornaram adultos dependentes do programa; comparado a 22% daquelas cujos pais tinham ensino médio. Ou seja, a chance de dependência diminui com a maior escolaridade do responsável. Outro dado importante sobre esse contingente de crianças que se tornaram adultos dependentes é que, em média, no Brasil, 69% são beneficiários titulares, ou seja, formaram novas famílias pobres, com ou sem filhos. E mais, 86% desses novos titulares geraram filhos, sendo, portanto, estes últimos representantes da terceira geração de beneficiários dependentes do programa. Análise a partir dos números dispostos em nossos painéis permite descobrir adicionalmente que a combinação de sexo e cor/raça é fortemente associada à permanência intergeracional no programa: 36% das meninas negras que eram dependentes em 2005, são dependentes quando adultas. Homens brancos na mesma condição em 2005 têm uma probabilidade bem menor de serem dependentes quando adultos, de apenas 12%. Essa diferença permanece mesmo quando controlamos para região de residência do dependente em 2005. No Nordeste, 42,7% das meninas negras dependentes em 2005 ainda serão dependentes em 2019 (comparado a 23,6% dos homens brancos). No Sul, região com menor taxa de dependência intergeracional das transferências do programa, 6,2% dos meninos brancos dependentes em 2005 tornaram-se adultos dependentes, comparado a 22,3% das meninas negras. Não há, contudo, nada determinístico na pobreza. Políticas públicas de melhoria da educação e saúde, se forem acompanhas de crescimento econômico, parecem indicar alteração na trajetória intergeracional de uma família pobre. Sabe-se, graças em parte à contribuição do Imds, que a maioria (64%) das crianças dependentes em 2005 saiu do CadÚnico em 2019, e que 46% foram encontradas ocupando postos formais de trabalho entre 2015 e 2019. Enquanto se pode argumentar que o primeiro resultado não significa mobilidade ascendente, a presença na RAIS aponta inequivocamente para ascensão social de um grupo que era bastante vulnerável na infância. Em breve, lançaremos uma nova onda de resultados sobre a inserção produtiva da primeira geração de dependentes do PBF, na qual caracterizamos o emprego dessa coorte em comparação com empregados formais que nunca estiveram em famílias beneficiárias do PBF, na mesma faixa etária, no período 2015-2019. Ou seja, pegamos as pessoas listadas na RAIS neste período que tinham idade entre 21 e 30 anos, e separamos em dois grupos: quem já passou por uma família beneficiária do PBF e quem nunca passou. Feito isso, comparamos faixas salariais, qualidade da ocupação, tempo no último emprego e porte da empresa onde trabalhou pela última vez, entre os dois grupos. Convidamos nossos leitores e nossas leitoras a ficarem de olho em nosso portal para se aprofundar nesses novos resultados, além de visitar os resultados anteriores dessa sequência de estudos em dashboards do Imds (ver aqui) e apresentações (aqui e aqui). Até a próxima “Carta do Imds”! Paulo Tafner Diretor-presidente |