Olá, *|NOME|* O mundo está passando por uma grande transformação demográfica, que afeta de forma diferente os países de acordo com seu nível de renda e desenvolvimento. Nos países ricos, a população é mais velha e tem menos crianças. Nos países de renda média, a população está em transição, com queda da fertilidade e da mortalidade. Nos países pobres, a população ainda cresce, porém a taxas cada vez menores.
O Brasil é um país destoante, pois apresenta um comportamento demográfico de país rico sem, porém, ter alcançado um patamar de renda elevado. Do final dos anos 1990 até o início da próxima década, o Brasil terá uma estrutura etária favorável ao desenvolvimento, conhecida como bônus demográfico. Esse fenômeno ocorre quando a proporção de pessoas em idade ativa é maior do que a de dependentes (crianças e idosos), gerando uma janela de oportunidade para o aumento da produtividade. No entanto, o País não vem dando sinais de que irá aproveitar essa chance para enriquecer. Com um crescimento econômico relativamente baixo desde 1980 e um rápido processo de envelhecimento, ganha força uma dúvida crucial: ficaremos velhos antes de enriquecermos?
Projeções mostram que em 2060 o mundo terá 10,67 bilhões de habitantes e mais de 5,2 milhões de centenários. A idade média da população mundial será 39,4 anos, --47,1 anos entre os mais ricos. Com exceção da África, todos os demais continentes terão idade média superior a 40 anos. Nesse mesmo ano, o Brasil estará mais velho que a média mundial e próximo dos países ricos: a idade média do brasileiro será 45,3 anos (apenas 1,8 anos menos do que a média dos países ricos). A juventude, força-motriz que impulsiona o crescimento econômico, atingirá sua maior dimensão na próxima década, passando a diminuir seu tamanho a partir de então. Isso impõe desafios crescentes para garantir bem-estar e qualidade de vida.
Diante desse cenário, o Imds tem realizado uma série de estudos para responder à seguinte pergunta: nessa última onda demográfica, estará a juventude brasileira adequadamente preparada para enfrentar a demanda de ganhos de produtividade necessários para produzir riqueza num país com número crescente de idosos?
Uma das análises exploratórias do Imds consiste em um painel de indicadores sobre a situação da juventude. O “Painel de Indicadores da Juventude” analisa pessoas de 15 a 29 anos com base em dados do Saeb e da PNAD Contínua. Ele se divide em três eixos: características sociodemográficas, desenvolvimento de capacidades e inserção produtiva. Os indicadores sugerem que os jovens passam por um processo de emancipação entre 18 e 24 anos e atingem maior nível de participação no mercado de trabalho entre 25 e 29 anos. No entanto, a formação ruim recebida na educação básica afeta negativamente a produtividade dos jovens nessa entrada no mercado de trabalho, comprometendo além de sua carreira profissional, a geração de riqueza. As mulheres, principalmente as menos escolarizadas, enfrentam ainda mais dificuldades de inserção profissional. O Imds elaborou e divulgou uma apresentação intitulada “Principais desafios para a Juventude no Brasil e impactos sobre a renda e a produtividade” (Veja aqui matéria exclusiva publicada hoje, 17/10/23, no jornal Valor Econômico). Nesse estudo inovador mostramos que a baixa escolaridade dos jovens e a participação reduzida das mulheres no mercado de trabalho impactam negativamente a capacidade de geração de renda e de riqueza no Brasil. Esse resultado é particularmente relevante quando se compara com dois outros países: Chile e Coreia do Sul. Para o exercício contrafactual simulamos o impacto na geração de renda caso o Brasil tivesse a escolaridade chilena ou sul-coreana.
De acordo com os cenários gerados, se o Brasil igualasse hoje a taxa de participação feminina à masculina, entre os jovens de 25 a 29 anos, o PIB brasileiro teria um aumento de 17% em 30 anos, considerando a permanência dessa coorte até os 54 anos. Se, além disso, a partir de 2023, o Brasil elevasse instantaneamente a escolaridade dos jovens que entram no mercado de trabalho (25 a 29 anos) ao nível do Chile, o PIB teria um acréscimo de 25% em 30 anos. Se alcançasse o nível da Coreia, o crescimento seria de 55%. Se esse aumento fosse de forma gradual, ou seja, se o Brasil seguisse o mesmo ritmo que o Chile levou para chegar à sua escolaridade atual, o PIB subiria 21%. Se seguisse o mesmo ritmo da Coreia, o aumento seria de 33%. Essas trajetórias são apenas ilustrativas e mostram o potencial produtivo perdido pelo Brasil. Realisticamente, porém, elas não são factíveis considerando o histórico brasileiro de mais de 40 anos. Mas e se o Brasil adotasse duas políticas que garantissem que as chances de um jovem brasileiro, a partir dos 11 anos, concluir o ensino médio fossem as mesmas de um chileno; e que as chances de um brasileiro de 18 anos concluir o ensino superior também fossem as mesmas de um chileno? A mudança começaria em 2023, mas só teria efeito quando esses jovens de 11 e 18 anos entrassem na fase produtiva de 25 anos. Nesse caso, o PIB aumentaria em 14,5%. Se usássemos como referência os chilenos, o aumento seria de 2,2%.
Essa análise introdutória faz parte de um amplo eixo de pesquisas que o Imds vem desenvolvendo visando propor debates sobre os grandes desafios que afetam a mobilidade social dos jovens brasileiros. Para saber mais, convidamos todos os leitores a explorar o material citado nesta carta em nosso site. Até a próxima "Carta do Imds"! Paulo Tafner Diretor-presidente |