Imds analisa o fenômeno da evasão escolar

Imds analisa o fenômeno da evasão escolar

Nota técnica e três novos artigos do instituto detalham os obstáculos na concretização da escolaridade

Novos estudos do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds) discutem amplamente os fenômenos do abandono e da evasão escolar. O objetivo é mapear um dos entraves à concretização da escolaridade. Os estudos apresentam propostas de políticas públicas e programas ao redor do mundo que atuam na faixa etária da adolescência e que foram implementadas, testadas e avaliadas como bem-sucedidas em reduzir a evasão e o abandono, em experiências diversas. Ao atuar sobre a aquisição de competências cognitivas e socioemocionais, e tornando o ambiente escolar mais atrativo, as intervenções apresentadas nesses novos estudos evidenciam o aumento do envolvimento de alunos com a escola.

“A educação é um dos fatores que atuam para determinar a mobilidade social do país e é um requisito, se não suficiente, necessário para que haja progresso de trabalho, renda e condições de vida entre gerações”, afirma Paulo Tafner, diretor-presidente do Imds, ao comentar os novos estudos agora disponibilizados. “O país já conseguiu melhorar nesses indicadores, tendo reduzido as taxas de abandono e evasão escolar ao longo das últimas décadas, mas ainda há um trabalho a fazer – tanto para os números agregados, como especialmente buscando diminuir as desigualdades desses indicadores entre estudantes de contextos socioeconômicos e demográficos diferentes”, completa o economista.

Um exemplo foi a redução das diferenças das taxas de abandono entre as redes pública e privada. Em 2019, a taxa de abandono no ensino médio na rede privada estava abaixo de 1%, enquanto na rede estadual era de cerca de 5,5% - número bem abaixo do que os quase 15% da rede estadual em 2007, frente a uma taxa estável da rede privada. As taxas de evasão entre 2017 e 2018 foram, respectivamente, cerca de 3% e 9,5% para essas redes, de acordo com os dados disponibilizados pelo Inep. E isso se reflete nas taxas de jovens que conseguem concluir o ensino médio – olhando para o recorte de renda, tem-se que 45,6% dos jovens de 20 a 24 anos entre os 20% mais pobres que tinham concluído a educação básica em 2019, frente a 93,8% daqueles entre os 20% mais ricos, como mostram os dados coletado pela PNADC/IBGE.

Esses são alguns números ilustrativos de um cenário que se inicia cedo na vida acadêmica, começando pelas diferenças de aprendizagem desde a alfabetização, o atraso na conclusão de ciclos, e culminando em defasagem idade-série, fator que se correlaciona com abandono. Esses fatores se somam a um cenário pouco favorável no retorno da pandemia, em que muitos jovens não conseguiram se engajar ativamente no processo educativo no modo remoto ou híbrido.

Mas há programas que têm tido avaliações positivas e os resultados indicam tanto maior aprendizagem e chance de conclusão das etapas da educação básica, quanto ingresso no ensino superior. Além disso, usualmente os efeitos são acompanhados por menor risco de envolvimento com violência e menor incidência de gravidez na adolescência. Combinados, esses resultados aumentam a probabilidade de o jovem estar empregado e ganhando melhores salários anos depois – pensando no público mais vulnerável que tipicamente se beneficia desses programas, observa-se a concretização da mobilidade social. Algumas propostas de intervenção:

i. intervenções informacionais, como envio de mensagens para os responsáveis informando sobre frequência e desempenho dos estudantes, bem como falando da importância do envolvimento na vida escolar dos adolescentes;

ii. referências positivas e aconselhamento, por meio da interação entre tutores e mentores voluntários treinados e alunos em situação de vulnerabilidade, de modo a auxiliá-los na trajetória escolar e atuar como bons exemplos, numa relação de confiança e proximidade com o adolescente;

iii. iniciativas dentro da escola, que vão desde a oferta de educação em turno integral ou semi-integral, ensino técnico e profissionalizante, flexibilização de currículo, até melhora de práticas de gestão e criação de uma cultura escolar de busca pela excelência;

iv. incentivos financeiros, em programas que buscam remunerar os jovens por ano de conclusão do ensino médio, em desenhos que estimulam a poupança até a conclusão do ciclo, criando incentivos que atuam, por exemplo, sobre a aversão ao risco de perda do jovem;

v. educação remedial e escolas de verão, estratégias que buscam identificar as defasagens de aprendizagem dos alunos e minimizar as perdas pelo tempo de afastamento da escola durante as férias, provendo meios de resolvê-las, seja no contraturno escolar ou no período mais longo de férias, no verão;

vi. desenvolvimento de habilidades socioemocionais, que reúne estratégias que levam em conta as mudanças neurológicas ocorridas ao longo da adolescência e buscam, por exemplo, por meio de sessões em grupo que fazem uso de conceitos de terapia cognitivo-comportamental ou trabalho nas férias desenvolver essas habilidades, que são cada vez mais relevantes no mercado de trabalho – por vezes, até mais que o conhecimento técnico.

“Importante frisar a possibilidade de combinar vários desses elementos, como incentivos financeiros aliados a referências positivas, aconselhamento e tutoria, dentre outras soluções. Ou com outros arranjos que se adequem melhor à realidade local, após identificados e diagnosticados os problemas que se enfrenta”, acrescenta Tafner.