2025 - Edição 84 | 11 de novembro |
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Cinco anos de evidências sobre a mobilidade educacional no Brasil |
Painel de indicadores revela que, apesar dos avanços educacionais, o nível de instrução dos pais ainda define o futuro dos filhos |
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A mobilidade intergeracional educacional expressa a possibilidade de filhos alcançarem níveis de escolaridade mais altos – ou mais baixos – do que os de seus pais. Essa variação revela o quanto a origem familiar influencia as oportunidades de cada geração e ajuda a compreender as dinâmicas de mobilidade social no país.
Para aprofundar essa discussão, em 2020, o Imds lançou o painel de indicadores “Mobilidade Intrageracional: uma análise de ciclos de vida (1996 e 2014)”. O estudo tem o objetivo de reunir dados que ajudam a compreender como se reproduzem, ou se transformam, as condições sociais no Brasil. Cinco anos depois, com 22 painéis de indicadores diferentes, o dashboard permanece uma referência para quem busca entender, de forma acessível e interativa, a relação entre educação, renda e oportunidades.
O painel faz parte de uma série de cinco instalações, que analisam os caminhos da mobilidade social em escala nacional a partir de dados coletados pelo IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Assim, essas cinco seções se estruturam a partir de temas como correlação da escolaridade entre pais e filhos, acesso à tecnologia e condições de moradia, por exemplo. Esse foi um dos pontos de partida de nosso compromisso com o método e o rigor técnico proposto pelo instituto.
Com um olhar voltado para dois momentos específicos do tempo – 1996 e 2014 –, este primeiro painel possibilita a análise da mobilidade intrageracional das gerações dos anos 1950 e 1960. Dessa forma, os dados investigam a geração dos anos 1950 aos seus 40 anos (em 1996) e aos seus 60 anos (em 2014), assim como a geração dos anos 1960 aos seus 30 anos (em 1996) e aos seus 50 anos (em 2014). A ferramenta permite recortes por época de nascimento, sexo, cor/raça, região do país ou área de residência (rural ou urbana).
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Para analisar os níveis de escolaridade dos pais e de seus filhos, o painel seleciona cinco categorias diferentes: Sem instrução, Fundamental incompleto, Fundamental completo ou Médio incompleto, Médio completo ou Superior incompleto e Superior completo ou mais. A análise é dividida, ainda, em três tabelas diferentes, de modo a diferenciar a disponibilização de dados em: porcentagem, número de indivíduos – obtidos pelo Suplemento de Mobilidade Social (1996) e Suplemento de Mobilidade Sócio-Ocupacional (2014), fornecidos pela PNAD de cada respectivo ano – e amostras.
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Desde 1996, o Brasil avançou na escolaridade média, mas a herança educacional ainda pesa. Os dados do painel mostram que, de forma geral, o percentual de brasileiros com ensino superior dobrou nesse período – de 8,3% para 16%. Ainda assim, as chances de um filho de pais com diploma universitário concluir a faculdade em 2014 eram quase quinze vezes maiores do que as de quem vem de famílias sem instrução. Entre esses, apenas 4,7% chegaram ao ensino superior naquele ano, contra 70% entre os mais escolarizados. Os números revelam grande evolução educacional, mas nem todos avançaram na mesma velocidade. Duas décadas de políticas educacionais ampliaram o acesso à escola, mas não romperam o elo mais forte da mobilidade social brasileira: a escolaridade dos pais.
Além disso, a persistência da vantagem entre os mais escolarizados evidencia a força da herança educacional no Brasil. Entre os filhos de pais que não tiveram instrução, a porcentagem dos que atingiram o fundamental incompleto caiu de 58% para 46,5% em 2014. Quando analisamos essa mudança dentre os filhos de pais que tiveram ensino superior completo, por exemplo, o percentual vai de 3,4 para 3,2. Por mais que a tendência de queda seja a mesma, os índices da primeira categoria são quase quinze vezes maiores do que da segunda. Os dados sugerem que, embora o sistema educacional tenha evoluído, ainda reproduz desigualdades de origem.
Esses números ajudam a dimensionar como educação, renda e infraestrutura doméstica se articulam. Mais do que uma base estatística, o Painel de Indicadores é um instrumento de análise pública que segue inspirando estudos, reportagens e políticas voltadas à mobilidade social. Desde sua publicação em 2020, o painel tem despertado interesse de pesquisadores, gestores e veículos de comunicação, como o jornal “O Estado de S.Paulo”, fortalecendo a presença do Imds no debate público e ampliando sua contribuição para a formulação de políticas baseadas em evidências.
Cinco anos depois de sua publicação original, o painel de indicadores continua cumprindo seu papel relevante: oferecer evidências claras e comparáveis para quem busca compreender as desigualdades do país e os entraves para a mobilidade social com base em dados.
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Até a próxima "Carta do Imds"!
Paulo Tafner
Diretor-presidente
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