2025 - Edição 83 | 28 de outubro |
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Estudo do Imds analisa trajetórias de mobilidade social entre famílias do Bolsa Família |
Resultados mostram que dois em cada três jovens beneficiários em 2012 deixaram o programa ao longo de 12 anos e exploram a influência das condições familiares e regionais nas trajetórias dessas famílias |
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O Programa Bolsa Família consolidou-se, ao longo de mais de duas décadas, como um marco da política social brasileira. Ao oferecer segurança de renda mínima, o programa contribuiu para reduzir a pobreza e criar condições para que milhões de famílias pudessem investir em educação, saúde e melhores oportunidades de vida. Sua importância vai além do apoio financeiro: ele tem sido fundamental para garantir dignidade, proteger as famílias em momentos de crise e reduzir desigualdades no país.
Parte essencial dessa política é o Cadastro Único para Programas Sociais, instrumento que identifica, acompanha e permite compreender as condições de vida das famílias de baixa renda em todo o território nacional. Mais do que um simples registro administrativo, o Cadastro Único é uma ferramenta estratégica de gestão e de conhecimento, que revela as transformações sociais em curso e possibilita ao Estado planejar melhor suas ações. Sair do cadastro, nesse contexto, pode representar uma trajetória de ascensão e melhoria das condições de vida, com famílias que conquistam autonomia e passam a depender menos da proteção direta do Estado.
Foi nesse cenário que o Imds desenvolveu o estudo “Determinantes da Saída do Cadastro Único: Evidências Longitudinais a partir dos beneficiários do Bolsa Família em 2012”, no âmbito do Acordo de Cooperação Técnica com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). O relatório completo está disponível no site do Imds (aqui) e também foi tema de reportagem na Folha de S.Paulo (leia aqui) e na Agência Brasil (leia aqui).
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O estudo acompanha, entre 2012 e 2024, uma geração de jovens que, no início da década passada, eram dependentes de famílias beneficiárias do Bolsa Família. Ao longo de doze anos, os resultados mostram um quadro de avanços expressivos. Cerca de dois em cada três jovens (66,5%) deixaram o programa nesse período, enquanto 17,6% permanecem no Cadastro Único sem o benefício e 33,5% continuam recebendo o Bolsa Família. Esses números revelam que uma parcela significativa das famílias acompanhadas conseguiu melhorar suas condições de vida e se desligar da principal política de transferência de renda do país, ainda que uma fração relevante continue necessitando de apoio.
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As análises indicam que as famílias que deixaram o cadastro tendem, em média, a apresentar melhores condições iniciais de renda e escolaridade, além de estarem mais concentradas em áreas urbanas e em municípios com maior dinamismo econômico. Já aquelas chefiadas por mulheres, localizadas em zonas rurais ou com menor escolaridade apresentam maior probabilidade de permanecer registradas, refletindo desigualdades estruturais que limitam o avanço da mobilidade social em algumas regiões do país.
Outro resultado importante mostra que famílias com permanência mais longa no Bolsa Família têm mais chances de continuar vinculadas ao Cadastro Único mesmo após o fim do benefício. Essa constatação evidencia o papel do programa em oferecer estabilidade e segurança de renda a grupos cronicamente vulneráveis. Ao mesmo tempo, reforça que a superação definitiva da pobreza exige um conjunto de políticas integradas que combinem transferência de renda com oportunidades de educação, qualificação profissional, inclusão produtiva e fortalecimento das economias locais.
O estudo também chama atenção para as diferenças regionais e demográficas na dinâmica da saída. Nos municípios de médio e grande porte, especialmente em áreas com maior oferta de emprego formal e acesso a serviços públicos, as trajetórias de desligamento do cadastro são mais frequentes. Esse padrão indica que fatores territoriais e estruturais, como a concentração de oportunidades de trabalho e educação, influenciam as possibilidades de mobilidade social das famílias.
Os resultados reforçam a mensagem de que o Bolsa Família é uma base indispensável da política social brasileira, necessária para assegurar dignidade e reduzir pobreza. Indicam também que, se articulado a outras políticas, especialmente as que ampliam o acesso à educação e ao trabalho, o programa tem potencial para impulsionar trajetórias concretas de mobilidade social e autonomia.
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Até a próxima "Carta do Imds"!
Paulo Tafner
Diretor-presidente
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