2025 - Edição 81 | 30 de setembro |
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As estratégias (e os custos) para tentar mitigar a gravidez na adolescência |
A partir de uma revisão de literatura, Nota Técnica do Imds discute os efeitos do problema na escolaridade e no mercado de trabalho |
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A gravidez na adolescência afeta também os grupos de convívio dos jovens – e também toda a sociedade. Em novo estudo, o Imds propõe uma análise econômica sobre o tema, que frequentemente é abordado sob as perspectivas médica, psicológica ou educacional. Essa abordagem se dedica a analisar e quantificar o impacto econômico, tanto na esfera privada quanto na esfera pública, decorrente da gravidez na adolescência.
A Nota Técnica “Custos e Intervenções Acerca da Gravidez na Adolescência: Uma Breve Revisão da Literatura” foi desenvolvida a partir da revisão de 40 estudos da literatura e oferece ferramentas valiosas para identificar custos diretos e indiretos, bem como avaliar a efetividade de políticas públicas voltadas à mitigação do fenômeno.
A interferência na educação das gestantes é o primeiro reflexo notável. A gravidez na adolescência reduz os anos de escolaridade, além de afetar a probabilidade de término do ensino médio e o desempenho escolar das jovens mães. Já a quantificação dos impactos sobre os pais do sexo masculino ainda é pouco explorada na literatura. Um dos raros exemplos de resposta foi encontrado em uma pesquisa no Chile, que identificou os pais adolescentes de 93,5% das crianças no estudo. Os resultados indicam que o efeito entre os homens é menor que entre as mulheres, ainda que ambos sejam impactados de maneira negativa. Assim, a gestação nessa faixa etária pode atuar no aumento das desigualdades de gênero.
Essas jovens também enfrentam penalidades no mercado de trabalho, que se manifestam, na maior parte das vezes, nas diferenças na taxa de participação e no nível salarial. Apesar de a literatura ter como foco os impactos da gravidez na adolescência sobre a mãe, a Nota Técnica traz para a discussão os efeitos que podem ser causados no futuro filho e no ambiente social dos pais adolescentes.
De acordo com os achados da revisão de literatura, uma amiga que acompanhou uma gravidez na adolescência tem a probabilidade de engravidar jovem diminuída em seis pontos percentuais. Isso ocorre pois, ao presenciar as dificuldades de ser uma mãe adolescente, as amigas buscam medidas preventivas. No entanto, as externalidades – processo de ser impactado indiretamente por uma decisão alheia – nem sempre são benéficas. Ter uma irmã que se torna mãe adolescente pode diminuir o desempenho acadêmico e aumentar a probabilidade de evasão escolar do irmão não envolvido na gravidez, por exemplo. Isso acontece pois os pais tendem a concentrar sua atenção tanto na filha gestante quanto no neto.
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Os custos de uma gravidez na adolescência são consideráveis e, além dos efeitos já mencionados, o problema impacta também os gastos públicos, visto que mães adolescentes têm uma maior necessidade de assistencialismo governamental. O estudo do Imds apresenta o que a literatura entende como os elementos componentes de políticas bem-sucedidas ou não na mitigação da gravidez na adolescência, com foco no contexto dos Estados Unidos. |
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Diversas campanhas de conscientização nas escolas acerca dos custos da gravidez na adolescência já foram idealizadas e realizadas. Porém, a efetividade delas como estratégia para mitigar o problema é incerta. A ineficiência dessas campanhas informacionais tradicionais está relacionada à maneira como a comunicação é feita com o público-alvo. O desafio está em conciliar uma comunicação responsável com uma linguagem dinâmica. A comunicação eficaz com adolescentes deve, além de oferecer o conhecimento técnico sobre métodos contraceptivos, despertar neles a vontade individual de se informar a respeito do assunto.
Recursos imediatos também são considerados na mitigação deste problema. A ampliação do acesso a contraceptivos, em especial a “pílula do dia seguinte”, pode reduzir de maneira significativa a gravidez na adolescência. No entanto, autores como Sourafel Girma e David Paton apontam que, além de uma possível ineficácia, esses recursos têm impacto no aumento de doenças sexualmente transmissíveis.
Além dos anticoncepcionais, o acesso a serviços de saúde mais amplos e a programas de planejamento familiar e aconselhamento também demonstram relevância. As evidências mostram que essas iniciativas também trazem efeitos duradouros, como menor número de filhos ao longo da vida e melhores condições socioeconômicas para a geração seguinte.
Estudos indicam, também, que o aumento da escolarização da mãe reduz a probabilidade de uma gravidez prematura, mesmo que seja por meio da obrigatoriedade da presença em sala de aula. Assim, políticas de incentivo à educação podem reduzir a incidência de gravidez na adolescência. O Programa Bolsa Família exemplifica isso, visto que o impacto da política foi estimado em três pontos percentuais – suficiente para reduzir a diferença entre jovens pobres e não pobres. No entanto, segundo especialistas, benefícios não vinculados ao desempenho escolar podem ter o efeito contrário. Nos Estados Unidos, por exemplo, há evidências de que benefícios mais generosos levam a maiores taxas de gravidez na adolescência. Ou seja, o formato e o valor do benefício são determinantes para a sua eficácia.
O Imds mantém seu compromisso de produzir e divulgar conhecimento qualificado sobre programas e políticas públicas com potencial para gerar impactos positivos na mobilidade social no Brasil. Ao investigar temas como a gravidez na adolescência, a partir de uma perspectiva econômica, o instituto contribui para o aprimoramento do debate público e para a formulação de estratégias mais eficazes que ampliem as oportunidades de ascensão social.
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Até a próxima "Carta do Imds"!
Paulo Tafner
Diretor-presidente
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