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2025 - Edição 77 | 05 de agosto

Há cinco anos surgia o Imds

Em meio à pandemia, Arminio Fraga e Paulo Tafner criam um instituto dedicado a estudos sobre mobilidade e desenvolvimento social no Brasil

Olá Leitor,

O ano era 2020. O início foi difícil e desafiador. Todo o trabalho era remoto. Recrutamos e contratamos técnicos de forma virtual, e apenas um ano e meio depois é que a equipe passou a se conhecer pessoalmente.

Assim, enfrentando essas adversidades, o Imds nasceu criando dashboards que utilizavam microdados. O objetivo era caracterizar o padrão de mobilidade social do Brasil, apresentar os gargalos impeditivos de maior mobilidade social – especialmente na base da pirâmide de renda domiciliar, a partir da identificação das desigualdades de oportunidades que impedem a ascensão social de filhos e filhas de pais e mães pobres –, e identificar os efeitos da pobreza sobre o investimento das famílias nos filhos.

Enquanto iniciávamos as atividades técnicas, desenvolvemos o site com o objetivo de divulgar nossa produção, já que desde o início definimos que o trabalho deveria ser disseminado de forma transparente para o maior número possível de pessoas.

Contando com a parceria inestimável da Oppen Social, utilizamos extensivamente as bases de dados do IBGE, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), do Datasus e das bases identificadas do CadÚnico e do cadastro de beneficiários do Bolsa Família – estas últimas obtidas a partir de acordo de cooperação técnica firmado com o Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) - para produzir dashboards que descrevem de maneira gráfica e tabular os fenômenos sociais elencados acima.

Mais recentemente, reformulamos e modernizamos o site para, entre outras melhorias, permitir que o usuário faça o download dos dados agregados em recortes demográficos e territoriais. Algumas das temáticas exploradas nos dashboards do Imds são, por ordem cronológica em que foram sendo produzidos: a) mobilidade intergeracional no Brasil e no mundo; b) desigualdades de oportunidades para crianças e adolescentes e na juventude; c) abandono e evasão no ensino básico; d) Bolsa Família: primeiras gerações; e e) desigualdade no orçamento familiar.

Esse acervo de indicadores é hoje composto por 21 dashboards, nos quais mais de um milhar de indicadores foram calculados a partir dos microdados citados, e organizados por sexo, cor ou raça, e território. O Imds tem um processo rigoroso de verificação para garantir a mais alta qualidade de informações, o que possibilitou ao instituto tornar-se fonte crível de divulgação de dados sociais, afirmação embasada nas cerca de 350 matérias jornalísticas publicadas a partir dos dados desses dashboards e outras publicações. Isso equivale, nesses cinco anos de existência, à publicação em média de uma matéria por semana citando o instituto e seus dados.

Em anos de eleição o Imds tem procurado subsidiar o eleitor com informações sobre seu estado, tanto em perspectiva temporal quanto comparadas com outros estados, a partir dos indicadores sociais reunidos, por bloco temático (habitação, saúde, educação, trabalho, renda, segurança), no dashboard “Imds Eleições”. Um grande acervo foi constituído para as eleições estaduais de 2022 e municipais de 2024. Para 2026, uma nova versão estará disponível em nosso site.

Tendo como uma de suas estratégias influenciar gestores para o uso de evidências no desenho de programas sociais, o Imds lançou o subsite Plataforma Impacto – acervo de mais de 500 programas sociais avaliados no Brasil e no mundo, organizados de forma didática para que o gestor e a sociedade possam compreender sob ângulos sociais diversos: a) finalidade da política; b) o desenho da intervenção, e c) os efeitos medidos de impacto.

Ainda na estratégia de influenciar gestores, o Imds firmou um amplo leque de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com diversos entes subnacionais buscando auxiliá-los na formulação e acompanhamento de políticas públicas. Firmamos ACTs com as prefeituras do Rio de Janeiro e de Vitória (ES) e os governos estaduais de Rio Grande do Sul, Piauí, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Nesses ACTs tivemos oportunidade de auxiliar gestores no combate à reprovação e à evasão, ao desenvolvermos um Preditor de Reprovação que muito tem auxiliado a gestão escolar do município do Rio de Janeiro e dos Estados do Rio Grande do Sul, Piauí e Mato Grosso do Sul. Também como fruto desses ACTs apoiamos o desenho de políticas para inclusão produtiva de jovens, prevenção de evasão e mapeamento da atividade de assistência social, radiografando e quantificando custos e identificando públicos demandantes desses serviços.

Preocupados com a questão ambiental, produzimos estudos técnicos sobre eventos climáticos extremos e estudamos o impacto desses eventos sobre a população vulnerável e em particular sobre aqueles que recebem Bolsa Família. A primeira parte do estudo dedicou-se às áreas rurais e nela analisamos o impacto de secas extremas sobre a migração de indivíduos e famílias, analisados por recebedores ou não do Bolsa Família. A segunda etapa, em revisão final para divulgação, estará voltada para as áreas urbanas e, nesse caso, os eventos climáticos extremos serão as chuvas.

De forma totalmente inovadora, na linha de estudos e pesquisas, realizamos o primeiro trabalho sobre a primeira geração de beneficiários do Programa Bolsa Família. Identificamos que aproximadamente 45% dos primeiros beneficiários do Bolsa Família (crianças que foram beneficiadas com o Bolsa Família em 2005) deixaram o Programa em 2019. Identificamos também que a chance dessas crianças ingressarem no mercado de trabalho formal quando jovens adultos depende muito das condições de oferta de bens, equipamentos e serviços sociais nos municípios onde crescem.

Ainda na linha de estudos, procuramos identificar o efeito de demissões em massa sobre a vida do trabalhador demitido. Os resultamos revelam que a depender do setor de atividade, o tempo para recuperar o emprego e o salário pode variar de alguns meses até anos e, em alguns casos, jamais voltar à situação inicial.

Outros estudos interessantes e intrigantes foram realizados pelo Imds nesses cinco anos de atividade e podem ser encontrados nas seções Publicações e Indicadores do nosso site.

Mais recentemente lançamos o Atlas de Mobilidade Social, rico conjunto de informações sobre as chances de mobilidade social das crianças nascidas na década de 1980, cujos pais situavam-se entre os 50% mais pobres naquela época. Os dados estão disponíveis para todos os municípios do Brasil e tem acesso aberto no site.

Tem sido uma alegria e uma inspiração participar dessa construção e desenvolvimento de uma instituição única voltada para a mobilidade e desenvolvimento social. Nossa equipe técnica é jovem, engajada e altamente qualificada, e tem reafirmado seu compromisso com o rigor e a excelência de nossos estudos e pesquisas. Igualmente engajados estão todos no apoio técnico aos gestores de entes subnacionais com os quais mantemos Acordos de Cooperação Técnica.

Coincidindo com o aniversário do instituto, estamos honrados em dar as boas-vindas ao economista Fernando Veloso, que assume a posição de Diretor de Pesquisa, ocupada brilhantemente por Sergio Guimarães durante os anos iniciais. Veloso chega da FGV, onde coordenou o Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE, e é autor de diversos artigos publicados em revistas acadêmicas nacionais e internacionais nas áreas de crescimento e desenvolvimento econômico, educação e mobilidade social. É também um parceiro de primeira hora do Imds, tendo sido membro do extinto Conselho Técnico Consultivo e, também, membro do Comitê Técnico-Científico que o substituiu. Sergio Guimarães, por sua vez, segue apoiando o Imds como membro do Comitê Técnico Científico, juntamente com os economistas Cecilia Machado e Marcos Lisboa.

Que venham os próximos anos como foram os primeiros, com realizações, engajamento e entusiasmo na realização dos nossos objetivos que, em última instância, se traduzem em tornar nosso país um lugar mais agradável, mais justo e mais dinâmico.

Até a próxima "Carta do Imds"!

Paulo Tafner

Diretor-presidente