Visualizar este e-mail como página web

2025 - Edição 73 | 10 de junho

Imds lança o Atlas da Mobilidade

Mapa interativo do Brasil apresenta múltiplos dados relacionados a mobilidade social, distribuídos por territórios detalhados até o nível dos municípios

Olá Leitor,

O que permite ou impede indivíduos nascidos em famílias com poucos recursos de ascenderem socialmente?

O conceito de mobilidade social, objeto central dos estudos e projetos do Imds, vem ganhando espaço no debate público nos últimos anos no Brasil. Ainda assim, sua plena compreensão continua sendo um desafio — sobretudo por ser frequentemente confundido com conceitos mais familiares, como desigualdade de renda ou pobreza.

Sabendo que a compreensão desse conceito e de seus determinantes é fundamental para que se identifique meios para superação do problema da baixa mobilidade social no Brasil, parte de nossos esforços vem sendo produzir e disponibilizar para o público interessado instrumentos que possam proporcionar maior clareza a esse entendimento. Com esse propósito, o Imds lança agora um novo produto interativo: o Atlas da Mobilidade.

Trata-se de uma ferramenta desenvolvida para explorar, por meio de visualizações claras e interativas, as profundas diferenças nos níveis de mobilidade social em diferentes regiões e grupos demográficos do país.

De forma inédita no Brasil, o Atlas da Mobilidade fornece estimativas detalhadas sobre mobilidade intergeracional de renda, produzidas a partir da vinculação entre filhos e pais em registros administrativos. Essa abordagem permite identificar, com precisão, como a renda familiar de origem influencia as trajetórias econômicas dos indivíduos na vida adulta. As análises se concentram em pessoas descendentes de famílias situadas na metade inferior da distribuição de renda nacional, o que possibilita investigar com profundidade os fatores que explicam a persistência da pobreza e os obstáculos à ascensão social no país.

Em outras palavras, quanto maior a influência da renda dos pais na situação dos filhos, menor é o nível de mobilidade intergeracional.

Os resultados são expressivos. No Brasil, dois em cada três filhos de famílias de baixa renda permanecem na metade inferior da distribuição de renda nacional ao atingir a vida adulta. Apenas metade consegue avançar mais de 10 pontos percentuais em relação à posição ocupada por seus pais, e menos de 2% alcançam o grupo dos 10% mais ricos. Esses números evidenciam a persistência da vulnerabilidade ao longo de gerações e os limites estruturais enfrentados por quem nasce em contextos de desvantagem econômica.

A relevância dos dados trazidos pelo Atlas da Mobilidade tem repercutido na imprensa nacional. Os resultados foram tema de uma reportagem exclusiva do jornal "O Globo", que destacou que menos da metade dos brasileiros nascidos entre os 50% mais pobres consegue superar a renda dos pais. A "Folha de S.Paulo" também abordou o tema, chamando atenção para o dado alarmante de que menos de 2% das crianças pobres no Brasil atingem a renda dos mais ricos. Além disso, o editorial do jornal ressaltou a gravidade do problema estrutural ao destacar que o Brasil continua sendo um país onde adultos pobres, em sua maioria, são filhos de pais igualmente pobres.

As comparações regionais reforçam esse diagnóstico. No Norte e no Nordeste, três em cada quatro filhos de famílias pobres permanecem entre os segmentos de menor renda. No Sudeste e no Centro-Oeste, essa proporção gira em torno da metade, enquanto no Sul se aproxima de dois em cada cinco. As chances de ascensão aos 25% mais ricos também variam fortemente: são de apenas 7,4% no Norte e de 18,1% no Sul. Santa Catarina e o Rio Grande do Sul aparecem com os melhores índices de mobilidade social ascendente do país, enquanto Acre e Pará estão entre os estados com os piores resultados. Esses contrastes mostram que o local de origem continua sendo um dos determinantes das oportunidades econômicas no Brasil.

Para complementar as informações apresentadas no Atlas, desenvolvemos também um novo Painel de Indicadores de Mobilidade Social, que oferece uma interface interativa que permite combinar múltiplos filtros — como sexo, cor/raça, região, escolaridade dos pais e outras dimensões — para aprofundar a análise da mobilidade intergeracional. Com ele, é possível realizar recortes mais finos e comparar grupos específicos de maneira flexível, ampliando significativamente o potencial analítico da ferramenta.

As estimativas do Atlas têm por base a metodologia descrita no artigo acadêmico “Intergenerational Mobility in the Land of Inequality” (Britto et al., 2024), que representa um avanço importante na medição da mobilidade social em países em desenvolvimento. A amostra é representativa da população adulta nascida entre 1983 e 1990. Os indivíduos da amostra são conectados a seus pais por meio de registros administrativos. Posteriormente, são medidas a renda dos pais durante a infância e adolescência dos indivíduos (1990-2010) e a renda (e demais resultados) dos indivíduos quando adultos (entre 25 e 29 anos de idade). A renda considerada inclui tanto rendimentos formais quanto informais, estimados com alta precisão a partir de modelos estatísticos treinados em dados de pesquisas domiciliares.

A metodologia científica está detalhada no website do Atlas, e todos os dados agregados estão disponíveis para download a partir da própria ferramenta.

Desenvolvidos pelo Imds em parceria com GAPPE, Oppen Social, Clean (Bocconi) e FIB – Fábrica de Ideias Brasileiras e idealizados para atender a pesquisadores, estudantes, gestores e formuladores de políticas públicas, jornalistas, e todos aqueles interessados no tema mobilidade social, o Atlas da Mobilidade e o painel de indicadores Mobilidade Social podem ser acessados a partir do site www.imdsbrasil.org ou pelo endereço https://atlasmobilidadesocial.org.br/.

Não deixe de conhecer e navegar nesse novo produto.

Até a próxima "Carta do Imds"!

Paulo Tafner

Diretor-presidente