Olá, *|NOME|* Para além das questões diretamente relacionadas à mobilidade social, o Imds tem procurado trazer elementos demográficos para uma análise prospectiva da mobilidade social em nosso país. Em outubro de 2023, na Edição nº 29 de nossa Carta, apresentamos uma pergunta sobre demografia e crescimento econômico: “Conseguiremos enriquecer antes de ficarmos velhos?”. Basicamente apresentávamos o desafio da atual juventude brasileira, que deveria estar adequadamente preparada para enfrentar a demanda de ganhos de produtividade necessários para produzir riqueza num país com número crescente de idosos. Mostramos naquela oportunidade que se o Brasil igualasse hoje a taxa de participação feminina à masculina, entre os jovens de 25 a 29 anos, o PIB brasileiro teria um aumento de 17% em 30 anos, considerando a permanência dessa coorte no mercado de trabalho até os 54 anos. Mostramos também que, se além disso, o Brasil pudesse elevar instantaneamente a escolaridade dos jovens que entram no mercado de trabalho (25 a 29 anos) ao nível do Chile, o PIB nacional teria um acréscimo de 25% em 30 anos. Se a escolaridade alcançasse o nível da Coreia, o crescimento seria de 55%. Naquela oportunidade ainda não tínhamos os dados demográficos da Revisão efetuada em 2024 pelo IBGE, a qual foi tornada pública mais recentemente e mostra as projeções da população brasileira até o ano de 2070. Os dados dessa nova Revisão revelam que depois de atingir seu ápice em 2041, com 220,425 milhões de pessoas, a população brasileira passará a decrescer, atingindo 211,069 milhões de indivíduos em 2060. Dez anos depois, em 2070, teremos menos de 200 milhões (199,229 milhões), equivalente à população de 2013. Seis anos antes do ápice populacional, em 2036, a PIA - População em Idade Ativa – aquele contingente populacional que indica o potencial de mão de obra que poderia ser utilizada na atividade econômica para gerar riqueza, atingirá seu máximo e passará a decrescer, chegando a apenas 113,067 milhões em 2070. Esse patamar demográfico é equivalente à nossa PIA de 2001. A mudança demográfica brasileira tem sido tão drástica que atualmente se trabalha com uma taxa de natalidade de aproximadamente 1,5 filho por mulher, o que acelera o processo de envelhecimento de nossa população, com efeitos significativos sobre a sustentabilidade da previdência e da assistência social exigindo medidas urgentes que promovam a qualificação acelerada de nossos jovens e ganhos expressivos de produtividade. Em vinte e cinco anos, um de cada três brasileiros receberá benefícios previdenciários de longa duração e BPC, e nossa população em idade ativa (PIA) estará em franco declínio, o mesmo acontecendo com nossa PEA - População Economicamente Ativa. As projeções realizadas pelo Ministério da Previdência são ainda mais assustadoras. Até 2070 o déficit previdenciário demandará 7,4% do PIB, que é equivalente ao gasto total com previdência de países mais envelhecidos do que o Brasil. O envelhecimento da população brasileira reflete um enorme avanço social. Afinal esse envelhecimento somente é possível porque reduzimos a mortalidade de crianças e idosos. Decorre também da revolução silenciosa promovida pelas mulheres, que impactou drasticamente a taxa de fecundidade brasileira ao passar a ter menos filhos. Na década de 1950 cada mulher tinha, em média 5,93 filhos. Já nos anos 1980, essa estatística havia baixado 40%, para 4,12 filhos por mulher. Vinte anos mais tarde, em 2000, viu-se outra queda de 40%, com a média passando para 2,39 filhos por mulher. Nos dias atuais, a taxa de fecundidade é de 1,5 filho por mulher. Essa taxa não apenas produz envelhecimento como implode a população nacional. O envelhecimento populacional combinado com a redução da população total e ativa, coloca um desafio enorme em termos de financiamento da previdência e da saúde. Serão exigidas parcelas crescentes do PIB para sustentar esses gastos, um dreno de recursos que nos desvia de investimentos estratégicos para o país como infraestrutura, saneamento e ciência e tecnologia, por exemplo, o que poderá limitar severamente o crescimento econômico brasileiro. Para que a população economicamente ativa remanescente consiga equilibrar esta conta será necessário elevar significativamente os níveis atuais de produtividade, objetivo que depende essencialmente de investimentos efetivos em políticas educacionais. Mais uma vez, observamos que muitos de nossos desafios nos levam para a mesma solução – educação. Esta também é a chave central de promoção da mobilidade social que tanto desejamos. Se o reduzido número de crianças coloca um enorme desafio em termos demográficos e fiscais, por outro lado, é uma oportunidade enorme de formar uma juventude altamente capacitada, com chances reais de termos enormes ganhos de produtividade, para enfrentar um mundo globalizado cada vez mais competitivo, permitindo maior e mais disseminada mobilidade social. O Imds continuará a acompanhar as principais mudanças em nossa demografia sempre tendo em perspectiva o aumento das oportunidades para a juventude e os impactos sobre mobilidade social. Até a próxima "Carta do Imds"! Paulo Tafner Diretor-presidente |