| Olá, *|NOME|* O Brasil dispõe de um amplo sistema de monitoramento educacional gerenciado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que acompanha a aprendizagem dos alunos por meio do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Recentemente foram publicados os resultados da edição de 2023 dessa avaliação. Os resultados de Língua Portuguesa mostram que 45 de cada 100 alunos do 5º ano do ensino fundamental público não estão adequantamente alfabetizados. Esses estudantes obtiveram notas inferiores a 200 pontos em uma escala que vai até 400, classificados nos níveis de proficiência “insuficiente” ou “inadequado”. Na prática, isso significa que não conseguem identificar relações de causa e consequência em textos, não diferenciam fato de opinião e têm dificuldades até para reconhecer o tema central ou informações explícitas em textos curtos. Em termos de magnitude, são 992 mil crianças e pré-adolescentes brasileiros nessa condição. Notadamente, essa deficiência na alfabetização básica afeta diretamente o aprendizado em outras áreas do currículo escolar como, por exemplo, Matemática e Ciências, disciplinas que exigem habilidades de leitura para compreensão e assimilação de conceitos fundamentais. Diante desse resultado, o que esperar para a trajetória escolar e até profissional destas quase um milhão de crianças brasileiras que nesta etapa escolar ainda não atingiram as habilidades básicas de leitura da língua portuguesa? Vale lembrar que a maioria desses estudantes pertence a famílias em situação socioeconômica mais desfavorecida. E, nesse sentido, sendo a educação uma forte alavanca para a mobilidade social, nosso sistema parece contribuir para perpetuar ciclos de pobreza e exclusão social. No entanto, já tivemos resultados mais satisfatórios no exame de Língua Portuguesa do Saeb do 5° ano do ensino fundamental. Em 2017 alcançamos 60,7% de alunos classificados com nível “adequado” de aprendizado, resultado fruto de uma melhora que vinha ocorrendo durante dez anos, ano após ano, desde 2007, quando apenas 25,5% dos alunos tinham alcançado o nível “adequado”. Mas, a partir de 2017-2019 o Brasil parece ter revertido este ciclo de ganhos, com 56,5% em nível “adequado” de aprendizado. Os dados de 2023, com 55,1% dos alunos em nível “adequado”, mostram que ainda não recompusemos o resultado de 2017 e nem os números pré-pandêmicos. De pronto, pode-se afirmar que a pandemia teve efeitos negativos, mas que foram apenas parcialmente recuperados em 2023. Essa recuperação não foi forte o suficiente para retomar os níveis de 2019 (56,5%) e muito menos o patamar de 2017 (60,7%). Em síntese, não se pode afirmar que o resultado de 2023, nível abaixo de 2019, ocorreu exclusivamente por conta da pandemia. Esses resultados sugerem também uma outra pergunta: se o Brasil estava avançando nos resultados em educação até 2017, o que causou a reversão dessa trajetória a partir daquele ano? Ainda não se tem respostas satisfatórias para essa pergunta. Um aspecto a ser considerado é que esses resultados não sejam homogêneos em todo o território brasileiro e que seria de grande valia aprendermos com as evidências e casos de sucesso, analisando, por exemplo, as heterogeneidades entre municípios. Isso, no entanto, não é mais possível, posto que desde 2021 o INEP não mais disponibiliza os dados em nível de municípios, o que dificulta e/ou impede tal objetivo. É de se lamentar que diante de tais resultados, por conta de uma decisão para lá de questionável por parte do INEP, estejamos navegando no escuro. Até a próxima "Carta do Imds"! Paulo Tafner Diretor-presidente |
