Olá, *|NOME|* Fechamos 2024 com a taxa de desemprego próxima de 6% - um patamar bastante baixo para a série histórica– e com crescimento do PIB de 3,5%. São resultados para se comemorar. Por outro lado, fechamos esse mesmo ano com dólar acima de R$ 6,15, bolsa com queda de mais de 10% (quase 30% em dólar) e a dívida pública atingindo perigosos 80% do PIB, com valor acima de 9 trilhões de reais. Há, portanto, razões para celebração e motivos para preocupações. O Imds inicia sua série de Cartas em 2025 com o tema mercado de trabalho --que tem dados de muita vitalidade. Este ano marca meia década da pandemia da COVID-19 e seu choque devastador no mercado de trabalho em todo o mundo. É verdade que o período pós-pandêmico parece ter retornado aos níveis de normalidade, com as taxas de perda de ocupação se estabilizando. No Brasil não está sendo diferente. O retorno à normalidade sugere que, apesar do choque inicial, o mercado de trabalho conseguiu se ajustar ao longo do tempo. Essa recuperação teve diferentes impactos distintos quando são considerados diversos grupos sociodemográficos, especialmente quando nos voltamos para os resultados de mulheres, indivíduos com pouca escolarização, trabalhadores informais e negros. Estudo do Imds sobre as dinâmicas ocupacionais no Brasil, que embasou a matéria “Desigualdade na recuperação do mercado de trabalho”, publicada no jornal Valor Econômico em 30/12/2024, revela que as desigualdades ocupacionais persistem no Brasil. Utilizando dados longitudinais da PNAD Contínua (PNADC), de 2017 até o primeiro trimestre de 2024, o estudo se debruça sobre as dinâmicas ocupacionais por meio de uma abordagem dupla: análise descritiva e análise de risco. Essa estratégia permite identificar quais grupos foram mais afetados pela crise e quais características estão associadas à maior resiliência na ocupação, oferecendo uma base sólida para a formulação de políticas públicas. A análise descritiva focou nos padrões gerais, revelando, por exemplo, que antes e depois da pandemia, a probabilidade de trabalhadores no mercado formal ficarem desocupados (em trimestres subsequentes) era de cerca de 8%, enquanto no mercado informal chegava a 22%. Durante o pico da pandemia, esses índices subiram para 14% e 34%, respectivamente, o que evidencia efeito particularmente mais severo da crise sanitária global entre os trabalhadores informais. A análise de risco, por sua vez, complementou a análise descritiva, ao avaliar os efeitos relativos de diferentes características individuais e ocupacionais em relação à perspectiva de perda de ocupação, controlando para as demais variáveis.
Pretos e pardos apresentaram maiores riscos de perda de posto de trabalho do que brancos. Antes da pandemia, trabalhadores negros em ocupações informais enfrentavam uma probabilidade de perda média de 25%, enquanto brancos informais registravam 20%. Com a chegada da pandemia, a situação se agravou para ambos os grupos, com a probabilidade de perda entre negros informais atingindo 35,8% (aumento de 43,2%), enquanto para brancos informais o pico foi de 29,5% (aumento de 47,5%). No mercado formal, a probabilidade de desligamento para todos foi bem menor, mas entre negros foi consistentemente maior que a dos brancos. Durante a pandemia, por exemplo, o risco de perder o emprego foi 6,4% maior para pardos e 4,0% maior para pretos. No pós-pandemia, as diferenças permaneceram, ainda que reduzidas, com pardos registrando 4,9% e pretos 3,0% a mais de risco. Mulheres enfrentaram um risco de perda de ocupação maior em todos os períodos, tanto no mercado informal, quanto no formal. No período pré-pandemia, a taxa de perda de ocupação para mulheres informais era, em média, 28,1%, enquanto entre os homens informais a taxa média era de cerca de 18,7%. Durante a pandemia, a probabilidade de perda da ocupação entre as mulheres informais chegou a 41,8%, enquanto para os homens o valor foi de 27,3%. Já os jovens, entre 18 e 29 anos, tiveram um risco de desligamento que variou entre 9,2% no pré-pandemia e 6,9% no pós-pandemia em comparação aos adultos de 30 a 59 anos. E os idosos (60 anos ou mais) apresentaram um risco 36,1% maior durante a pandemia, permanecendo 34,7% maior no pós-pandemia. A escolaridade também influenciou de forma marcante a estabilidade da ocupação, com trabalhadores mais qualificados e formalmente empregados apresentando maior proteção contra desligamentos, tanto durante quanto após a crise: trabalhadores com ensino médio incompleto ou menos enfrentaram riscos de desligamento até 17,0% maiores no pós-pandemia em relação aos trabalhadores com ensino superior. As diferenças nas dinâmicas ocupacionais revelam que o impacto da pandemia no mercado de trabalho foi, em grande parte, transitório. Contudo, as desigualdades entre os grupos permanecem tão profundas quanto antes. Entender por que determinados grupos sociais têm menos da metade das chances de permanecer empregados em comparação a outros é essencial para debater a construção de uma sociedade mais equitativa. Tais disparidades evidenciam problemas estruturais de mobilidade social, cuja manifestação mais visível está nas diferenças de chances de permanência no mercado de trabalho.
Se reduzir desigualdades é um desafio central do nosso tempo, é imprescindível a formulação de políticas públicas voltadas à inclusão e proteção dos trabalhadores mais vulneráveis. Medidas que melhorem a qualificação profissional e incentivem a formalização em conjunto com a melhoria da proteção social são essenciais para reduzir as disparidades e promover uma recuperação econômica mais justa e inclusiva. Até a próxima "Carta do Imds"! Paulo Tafner Diretor-presidente |