| Olá, *|NOME|* O Imds acolheu no último dia 3 de maio o seminário “Métodos de Alfabetização: como a ciência da leitura pode beneficiar práticas e políticas educacionais”, proferido por Renan Sargiani, presidente do Instituto de Educação Baseada em Evidências (Edube). Sargiani, que concluiu seu pós-doutorado em educação na Harvard Graduate School of Education, criou durante sua presença naquela instituição uma solução educacional chamada Novos Amigos, que introduz insumos nas salas de aula do fim da pré-escola e do início do Ensino Fundamental para formação de habilidades fundacionais precursoras de uma boa alfabetização.
O seminário dá continuidade à parceria entre o Imds e o Instituto Edube, centrada no enriquecimento do debate público e na prática da alfabetização no Brasil. Um dos projetos gestados pela parceria envolve o desenvolvimento de instrumentos abrangentes e inéditos da qualidade da alfabetização ao fim da pré-escola e no início da educação básica, e de questionários contextuais que permitam mapear o entorno deste processo, tanto em casa, quanto na sala de aula. Ao somar esforços, esperamos poder contribuir para que a má leitura deixe de atuar como uma barreira à formação de habilidades que sustentem engajamentos mais sólidos com a vida escolar e transições mais produtivas da escola para o mercado de trabalho, e que isso tenha consequências para o aproveitamento de oportunidades de desenvolvimento humano e mobilidade social.
A base dos argumentos apresentados no seminário de Renan vem da chamada Ciência Cognitiva da Leitura, desenvolvida a partir dos anos 60. Um dos traços fundamentais desse campo do conhecimento é sua multidisciplinaridade, com insumos da neurociência, psicologia e linguística cognitivas, e a fonoaudiologia. Para focar em apenas em alguns insumos, a neurociência permitiu mapear regiões do cérebro ativadas em tarefas específicas que dão base ao processo de alfabetização, como de pronúncia e articulação ou de acesso ao significado. Alguns experimentos apresentados pelo autor, por exemplo, mostram que métodos diferentes de alfabetização constroem conexões em áreas diferentes do cérebro – e, com isso, acabam sedimentando possibilidades diferentes de novas conexões, que podem ser determinantes para a velocidade e a qualidade da alfabetização e do letramento. A complexo quadro descrito por Renan, segundo o próprio, está a milhas de distância quando se trata do debate público sobe o tema no Brasil. Aqui, o debate se configura, de maneira particularmente intensa, como o que foi chamado “guerra dos métodos”, na qual enfrentam-se as abordagens fônicas (centradas no aprendizado do código) e as abordagens globais (às vezes também chamadas de construtivistas, e que centrariam o processo de alfabetização na apreensão do significado).
A “guerra dos métodos”, como argumentado no seminário, aterrissa na sala de aula como um conjunto de decisões de o que, quando e como ensinar. Um exemplo de decisão é a de ensinar sílabas inteiras ou a segmentar e sintetizar grafemas e fonemas aos alunos no início do processo de alfabetização. No seminário, Renan trouxe evidências de pesquisa autoral de que a segunda prática pedagógica tem produtividade de 50% a 100% maior na alfabetização da criança. Essa enorme diferença pode ter consequências fundamentais, em particular, para a alfabetização de crianças de grupos socioeconômicos distintos, corrigindo iniquidades criadas no seio familiar – usando os termos do especialista, pelo “capital cultural letrado” de seu “corpo docente oculto” de pais, mães e outras influências próximas. Até a próxima "Carta do Imds"! Paulo Tafner Diretor-presidente |