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2023 - Edição 33 | 12 de dezembro

O que nos diz o PISA 2022?

Pisa 2022 aponta baixo desempenho dos alunos brasileiros e eleva risco do futuro

Olá, *|NOME|*

    Os resultados do mais recente Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), apresentados ao público semana passada, mostram evidências esperadas, como a generalizada queda de desempenho pós-COVID. Em termos médios, a queda em matemática foi de 3,8% entre 2018 e 2022. Mas entre os 10 países de melhor desempenho foi de apenas 2,1%, enquanto para os 10 países de pior desempenho foi de 4,9%. Isso se repete para Leitura e Ciências.

     Outro fato importante é que o desempenho foi fortemente afetado pela paralisação da atividade escolar. Quanto mais profunda e mais longa, maior foi a queda. Nesse aspecto o Brasil muito se destaca negativamente. Fomos um dos países com maior período de lockdown e ficamos em 65º lugar em um ranking de 81 países. Em Ciências fomos o 51º entre 80 países, e em leitura ficamos com a posição 35 dentre 54 países.     Os resultados também revelaram que os estudantes brasileiros que vivem em famílias de maior renda tiveram desempenho equivalente ao de países ricos. Isso implica que a queda entre os demais foi ainda mais acentuada. Outro achado importante é que há diferenças significativas de resultados quando se considera a região de moradia do estudante. Sul e Sudeste apresentaram resultados superiores aos das demais regiões.

    Ao longo de seus pouco mais de três anos de existência, o Imds tem destacado o papel crucial da educação no impulsionamento da mobilidade social e na superação da pobreza. Mostramos que se a geração entrando no mercado de trabalho em 2022 tivesse a escolarização e a qualidade do aprendizado de seus pares chilenos, geraria valor agregado cerca de 40% maior ao longo da vida laboral (ver). E que essa baixa produtividade está fortemente associada com ausência de mobilidade educacional, na medida em que a escolaridade de um indivíduo ainda é fortemente associada à escolaridade de seus pais (ver). Mostramos ainda que o ensino médio é uma enorme barreira para aqueles adolescentes oriundos de classes menos favorecidas (ver). E mostramos que a escolarização de crianças e adolescentes (esses últimos, o público do Pisa) tem enorme variabilidade regional (ver), com evidentes casos de sucesso, mesmo em regiões menos favorecidas, como é o caso do Ceará.

    Os resultados do Pisa estão a revelar que lamentavelmente nosso sistema educacional público não tem sido capaz de reduzir diferenças vindas desde o nascimento. Isso não é novidade. Em trabalho anteriormente realizado pelo Imds, em que são apresentados resultados do Pisa para 2009 e 2018, é facilmente constatável que não havíamos evoluído nos 10 anos que separavam os dois momentos (ver). Em poucas palavras, o CEP de nascimento era e continua sendo mais relevante do que nosso sistema educacional. Este é incapaz de minimamente reduzir as diferenças ao nascer.

      Em mais de 20 anos de aplicação do Pisa, o fato é que jamais estivemos no grupo com notas superiores à média, ficando sempre entre os 25% piores, ou mais abaixo ainda. Em realidade, estivemos sempre pelo menos um desvio-padrão inferior à média e somente quando países sabidamente mais pobres e/ou menos escolarizados realizaram as provas, conseguimos ficar a 0,5 desvio-padrão abaixo da média. É muito pouco considerando o fato de que gastamos com educação, como proporção do PIB, mais do que Chile e algo próximo a Coréia, cujos desempenhos são muito superiores ao brasileiro (Chile, pelo menos 10% melhor, e Coréia aproximadamente 30% superior ao desempenho brasileiro).

   Os gastos totais com educação no Brasil nesse período cresceram aproximadamente 70% em termos reais e os gastos por aluno cresceram ainda mais. Ainda assim, o resultado brasileiro evoluiu muito pouco. Sabemos que a função de produção de educação é complexa e multifatorial. Os resultados dependem de inúmeros fatores além dos recursos diretamente alocados. Uma coisa, porém, parece certa: é necessário engajamento ativo das diversas esferas do setor público. E isso envolve definições de diretrizes claras por parte do governo federal, engajamento dos governos estaduais e municipais, envolvimento de diretores e professores da rede pública e participação das famílias, cobrando que a escola entregue desempenho acadêmico aos seus filhos. O papel proeminente do governo federal capitaneando esse processo é crucial.

      Devemos considerar que em um período pouco superior a esse, a Coréia mudou sua história em termos educacionais e teve ganhos de produtividade excepcionais produzindo crescimento econômico que a distanciou dos países de renda média. Nesse período o Brasil teve vários governos, mas nenhum deles foi capaz de produzir alteração nesse quadro. Como mencionado em outra “Carta do Imds” é necessário mais ação e menos tergiversação.

     Até a próxima "Carta do Imds"!

     Paulo Tafner

     Diretor-presidente


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Enviado por Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social – Imds

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