Olá, *|NOME|* Embora “mobilidade social” seja um conceito amplo e com muitas ramificações, a operacionalização desse conceito exige que se caracterizem mudanças em dimensões relevantes na vida dos indivíduos. Uma das principais dimensões diz respeito à renda ou à riqueza dos indivíduos.
Suponhamos que seja possível, em um dado momento, ranquear todos os indivíduos de uma sociedade por ordem decrescente de riqueza, do mais rico para o mais pobre. Uma questão que naturalmente surge: como estarão esses indivíduos no horizonte de alguns anos? Estarão exatamente na mesma posição do ranking? Terá havido alteração nas posições relativas? Quando analisamos questões dessa natureza, estamos tratando de mobilidade dentro de uma mesma geração, e por isso mesmo, nos referimos à mobilidade intrageracional.
Considerando as várias gerações dessa sociedade, outras perguntas são possíveis. Por exemplo, como estará, após alguns anos, a renda ou a riqueza da segunda geração em relação à primeira? Como será a posição relativa da segunda geração, quando comparada à anterior? Nesse caso, estamos tratando de mobilidade intergeracional.
A primeira pergunta diz respeito à mobilidade intergeracional absoluta, que mede o percentual de pessoas de uma geração que tem renda ou riqueza superior à de seus pais. Já a segunda diz respeito à mobilidade de ranking (ou posição), medindo se a geração dos filhos está em uma posição relativa superior à de seus pais. Ambos os conceitos são importantes e respondem a diferentes questionamentos.
Diversos fatores influenciam transições de renda e riqueza ao longo da vida - e, portanto, a mobilidade social –, mas é plausível que esses fatores tenham pesos diferentes dependendo da posição na pirâmide social em que o indivíduo está. O acesso à educação, à saúde, ao saneamento e a oportunidades de trabalho estão entre os mais relevantes para os mais pobres.
Considerando o extremo superior da pirâmide, ou seja, a parcela mais rica da sociedade é plausível que a mobilidade social seja explicada em maior grau pela dinamicidade do ambiente de negócios, pelo grau de liberdade dos indivíduos e pelas características institucionais que incentivem ou desincentivem o empreendedorismo. Em economias mais dinâmicas e econômica e socialmente abertas, os indivíduos de segmentos médios têm maior possibilidade de ascensão. O mesmo não se pode afirmar em relação a sociedades com regras que a enrijecem quanto à mobilidade.
O Brasil sabe relativamente pouco sobre a mobilidade social dos integrantes mais ricos da sociedade. A comparação entre França e Estados Unidos, relatada no livro “Skin in the Game”, do estatístico Nassim Taleb (em contraponto ao economista francês Thomas Piketty e seu livro “Capital in the Twenty-First Century”), é ilustrativa sobre as enormes diferenças de mobilidade nessa parcela e tende a ressaltar relações menos exploradas entre desigualdade e mobilidade social. Por exemplo, segundo Taleb, “apenas 10% das 500 famílias mais ricas nos EUA estavam nessa posição 30 anos antes”. Já na França, mais de 60% dessa mesma lista estavam nessa posição. Em síntese, Taleb indica que a preponderância de herdeiros na pirâmide econômica da França é muito mais significativa do que a observada nos EUA. Com o intuito de contribuir para o entendimento dessa dinâmica no caso brasileiro, o Imds está realizando um estudo sobre mobilidade e concentração de renda entre as famílias mais ricas do País. Utilizando dados da “Forbes”, o estudo se propõe a caracterizar mudanças relativas de posição no topo da pirâmide nos últimos anos e identificar possíveis diferenças entre Brasil e outros países, como China, Índia e Estados Unidos. Em breve esses resultados serão apresentados a vocês. Até a próxima "Carta do Imds"! Paulo Tafner Diretor-presidente |