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Carta do Imds - 21 de Março de 2023
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2023 - Edição 14 | 21 de março

Escolarização: a evolução entre as gerações

Imds tem mostrado como varia a mobilidade dos filhos em relação à escolarização dos pais; instituto trará em breve novos resultados

Olá, *|NOME|*

    O Imds vem chamando a atenção em suas publicações para o progresso educacional dos filhos em relação aos pais. A partir de dados do Banco Mundial (que fez um esforço para produzir indicadores de mobilidade educacional comparável entre os países, ver aqui), observa-se que a proporção de indivíduos nascidos nos anos 40 com escolaridade superior à de seus pais era de 54,1%. Na geração dos anos 80, 84,2% dos brasileiros tinham escolaridade maior do que a de seus pais. Uma das maiores taxas de mobilidade educacional ascendente do mundo (o Brasil é o sexto de uma lista de mais de 140 países).

      Essa análise, contudo, precisa ser contextualizada. Não se pode comparar gerações cujos pais têm escolaridade muito diferente. É muito mais fácil superar a escolaridade dos pais quando estes não são escolarizados. Enquanto 25,3% dos pais de taiwaneses nascidos na década de 1980 tinham ensino fundamental incompleto ou menos, no Brasil essa fração era de 70,6%. Assim, a mobilidade educacional brasileira dessa geração precisa ser comparada com países/gerações com percentual semelhante de escolarização da geração de pais – ou seja, que estavam em fases semelhantes ao ciclo de expansão da escolarização. A geração de 1980 se assemelha à geração sueca dos anos 1940, à sul-coreana de 1950, à malaia de 1960 ou da República Centro Africana de 1980. A boa notícia é que a mobilidade ascendente da geração de 1980 é tão alta quanto era a da Suécia na geração de 1940. A má notícia é que atingimos a velocidade dos suecos com 40 anos de atraso.

      Para se falar adequadamente de mobilidade social não basta mostrar que uma fração alta de filhos tem escolaridade maior do que a de seus pais. É preciso verificar se a distância da escolaridade dos filhos dos menos escolarizados está diminuindo em relação a dos filhos de pais mais escolarizados, para as gerações mais jovens de adultos (cuja escolarização está completa). Para tanto, precisamos recorrer aos suplementos da Pesquisa Nacional de Amostras Domiciliares de 1996 e 2014, cujo questionário permite essa análise intergeracional.

      Pode-se observar que a proporção de pessoas com ensino médio tem aumentado, em média, 9,3 pp a cada década de nascimento. Enquanto dos nascidos na década de 20 apenas 8,5% tinham ensino médio ou mais, dentre os nascidos na década de 80, 64,5% tinham ensino médio ou mais (ver aqui). Adicionalmente, a chamada mobilidade educacional de média distância tem subido. Entre os filhos nascidos nos anos 1920, cujos pais tinham no máximo o fundamental incompleto, apenas 5% completaram pelo menos o ensino médio. Para os filhos nascidos nos anos 1950, esse percentual subiu para 22% e entre os nascidos nos anos 80, chegou a 53%.

      No entanto, a diferença na taxa de conclusão do ensino médio entre filhos de pais com ensino médio ou superior incompleto e filhos de pais sem instrução tem caído lentamente. Essa diferença era de 66,8 pontos percentuais para os nascidos em 1920 e de 56 pp na geração nascida em 1980. Em síntese, essa diferença cai apenas 1,8 pp a cada década de nascimento.

    Uma das principais razões desse resultado tão perturbador é a evasão escolar que atinge as crianças que vivem em lares pobres e cujos pais têm baixa escolaridade. O grande divisor de águas entre as pessoas não está na cor/raça: para a geração nascida em 1980, a diferença entre negros e brancos com ensino médio completo ou mais é de 19,5 pontos percentuais, em favor dos brancos. Também não está no sexo: entre as mulheres e os homens, a diferença é de 8,4 pp em favor das primeiras. A clivagem de resultados está associada principalmente à escolaridade dos pais: enquanto 98% dos filhos de pais com ensino superior alcançam ao menos o ensino médio, apenas 35% dos filhos de pais sem instrução o fazem.

    O Imds tem ensejado esforços para dar suporte a governos estaduais e municipais na elaboração de planos e na operacionalização de programas com foco no combate à evasão. A razão principal pela qual o instituto resolveu se aprofundar no tema da evasão escolar está ligada ao fato desse fenômeno ter sua incidência mais alta entre os mais pobres. Esse e outros resultados sobre o comportamento recente da taxa de evasão no País podem ser vistos aqui e aqui.

   A consequência dessa taxa mais alta entre os mais pobres pode ser vista comparando-se as taxas de conclusão do ensino médio para adultos cujos pais apresentam diferentes níveis de escolaridade e nível de renda. De acordo com o último dado disponível, de 2021, entre os jovens de 18 a 19 anos cujo responsável possui ensino médio incompleto ou menos e que pertencem ao grupo das 40% menores rendas domiciliares per capita, 20,6% não frequentava a escola e não tinha concluído o ensino médio --ao passo que, na mesma faixa etária, apenas 6,2% dos jovens com responsáveis com ensino médio ou mais e dentre as 40% maiores rendas domiciliares per capita estavam na mesma situação. Para a faixa etária de 20 a 21 anos, os percentuais são respectivamente 32,3% e 7,3% (acesse aqui).

    Uma questão sobre a qual iniciamos recentemente uma linha de pesquisa é: será que as despesas com escolarização de qualidade no Brasil são focalizadas nas famílias com pais menos escolarizados? Em breve traremos resultados.

 

      Até a próxima “Carta do Imds”!

      Paulo Tafner

      Diretor-presidente


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Enviado por Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social – Imds

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