Na Região Sul, mobilidade social educacional ainda mostra diferença entre brancos e negros

Na Região Sul, mobilidade social educacional ainda mostra diferença entre brancos e negros

Na Região Sul, mobilidade social educacional ainda mostra diferença entre brancos e negros

Na região Sul do país, somente 7,3% dos negros alcançam o ensino superior ou conseguem chegar mais longe, indo até o mestrado ou doutorado.

Na região Sul do país, somente 7,3% dos negros alcançam o ensino superior ou conseguem chegar mais longe, indo até o mestrado ou doutorado. O número é surpreendente sobretudo porque em nenhuma outra região se encontra um percentual tão baixo. Para que se tenha uma ideia, a média nacional, já tímida, é de 10,6%. As regiões de melhor desempenho nesse aspecto da mobilidade social são o Centro-Oeste, com 15,2% de indivíduos atingindo esse grau de escolarização, e a região Sudeste, onde o percentual é de 12,5%.

Conhecer a diferença entre negros e brancos em seu desempenho é crucial para o estabelecimento de políticas públicas e para o entendimento da dinâmica social nos diversos estados. É o que fez o Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 1996 e 2014.

O número de brancos que chega ao ensino superior ou vai além (21,1%) é 2,9 vezes maior do que o de negros. Em nenhuma outra região essa diferença é tão grande. No Nordeste e Sudeste, por exemplo, que vêm em segundo lugar nesse ranking, a diferença é de 2,2 vezes.

O Brasil, nas últimas décadas, fez progressos no combate à pobreza, mas falhou no ataque à desigualdade de oportunidades que a perpetua. O remédio, neste caso, é maior mobilidade social, mas a prescrição e a dosagem variam bastante em uma nação de dimensão continental. Há “brasis” dentro do Brasil.

 

Na região Sul, a maioria da população negra filha de pais sem instrução não completou o ensino fundamental. A taxa local de 67,2% supera a das demais regiões do país no mesmo recorte – a saber, Centro-Oeste (57,6%), Nordeste (65,9%), Norte (62,7%) e Sudeste (56,9%). No Sul, a maioria dos brancos filhos de pais sem instrução também não chegou ao fim do ensino fundamental, mas o índice, de 58,7%, é 8,5 pontos mais baixo do que o atingido pelos indivíduos negros.

Para entender o problema em toda a sua dimensão, convém observar em que essas desigualdades resultam: a parcela de filhos negros no maior quinto de renda domiciliar per capita (20% maiores rendas) é praticamente metade (20,6%) da parcela de filhos brancos (41%) nessa mesma faixa. Ou seja, menores chances de ser mais escolarizado se convertem em menores chances de ter uma renda mais alta e, consequentemente, em possibilidades de consumo de bens, serviços e infraestrutura domiciliar ao longo da vida adulta.

Entre os sulistas, mais da metade dos domicílios em que residem filhos de pais sem instrução (51,38%) não tem acesso à Internet. A situação, neste caso específico, é pior na Região do que no Sudeste (44,42%) e no Centro-Oeste (48,86%). Entre os habitantes da Região Sul, no grupo dos filhos de pais sem instrução e que têm acesso à Internet, 39,73% navegam através de microcomputador, televisão ou tablet. No grupo dos filhos de pais com ensino superior completo ou mais, esse percentual sobe para 94,68%.

Mesmo a análise de dados mais prosaicos pode inspirar ações transformadoras. É a região onde, apesar da limitação da vida escolar dos pais, os filhos conseguem melhores condições de moradia. São menos de dois moradores por dormitório em 63,22% dos lares, percentual superior a todas as outras regiões. Tome-se o exemplo do programa “Piso firme”, lançado no México em 2000, que consistiu na distribuição de cimento para cobrir o chão de terra das residências mais pobres. 

A mudança simples diminuiu a incidência de doenças intestinais nas crianças que levavam ao absenteísmo e ao mau desempenho escolar. Políticas públicas amparadas na ciência podem levar aos resultados que os bons gestores públicos e a sociedade em geral perseguem. Mudar é possível, mas o mais importante é saber por onde começar – conhecendo a realidade.